Há uma diferença entre ser menino e ser moleque. Tem gente que acha que
não tem, mas tem. E é grande.
O menino era dado a paixões. Amar é uma prioridade sempre. Logo cedo
ele ouviu de uma tia que a vida sem amor é uma m... Ele acreditou e passou a
vida inteira buscando a quem amar. Apaixonou-se muitas vezes, ao ponto em que
as pessoas não acreditavam que ele estivesse realmente apaixonado. Eram comuns
as brincadeiras, gente que perguntava: - E aí? Amando? Apaixonado por quem
agora? Qual o nome da vítima? E assim por diante. Aquilo machucou o menino
enquanto ele foi menino. Depois parou de se importar. Ele e a pessoa por quem
ele estava apaixonado sempre sabiam que ele acreditava que era amor de verdade.
Mesmo que durasse pouco.
O tempo, na vida sentimental do menino, sempre correu diferente. O
tempo existia enquanto ele acreditasse no sentimento e deixava de existir no momento
em que ele deixava de acreditar. O infinito que Vinicius falava era muito
natural para ele. Os de fora nada entendiam. Como é que pode ele namorar desse
jeito? E ele virava tema de conversas, alvo de críticas e modelo do que não
fazer. No fundo aquilo incomodava um pouco ele, mas ele era o que ele era, nem
mais nem menos.
Um dia, ele se viu novamente sem amar e cercado de pessoas interessadas
ou curiosas em estar com ele, em experimentar ele. Que sensação estranha. Era
quase como se ele fosse uma marca de biscoito novo no supermercado à disposição
de quem quisesse provar. Ávido por amar e, antes, por ser amado, ele quase se
entregou e quase começou algumas histórias de paixão. Mas naquele dia ele
resolveu pensar um pouco mais.
- Por que eu deveria repetir padrões que nunca me levaram a lugar
nenhum?
Olhou pra trás e contou nos dedos das mãos as pessoas que ele realmente
amou. Amou pra valer, com direito a olhares cegos de paixão, com direito a
passeio de mãos dadas, a café na cama, a noites em claro conversando, a viagens
inesperadas, a surpresas, a carinhos imensos de tão pequenos, a sintonia de um
pensar e o outro falar. Concluiu que apesar de ter se apaixonado muito, ele
amou pouco.
A carência e a certeza de que um dia ele ainda vai encontrar a paz no
amor sempre o empurraram para novas tentativas. E assim, por querer acreditar,
ele acreditava e logo se via perdido naquilo que não era amor, apesar de
parecer muito com ele.
Se deu conta que só ele era capaz de mudar esse círculo vicioso. Que
havia um padrão de comportamento que ele seguia e que o levava sempre aos
mesmos lugares, com o mesmo gosto amargo no final de cada história.
As pessoas não vão acreditar em você. Pensou ele com ele mesmo. Até sua
melhor amiga é capaz de dizer que você não aguenta mais do que duas semanas
sozinho. Quer saber... tanto melhor. Não preciso mesmo explicar nada para
ninguém. Não estou devendo nada a ninguém. Saí de uma relação linda com uma
pessoa linda e não vou parar de acreditar nos valores que sempre acreditei só
porque não deu certo.
E seguiu pensando, mesmo sem saber como lidar com sua expectativa de
menino de que o amor sempre encontra seu caminho.
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