O menino tem manhas e manias. Ele sabe disso e não esconde de ninguém.
O menino sabe da sua necessidade de ser gostado, admirado, desejado até. Ser
uma pessoa bacana é sua meta e ele faz de tudo para estar presente na
vida das pessoas e para fazer diferença para quem passa pelo seu caminho. Algumas
pessoas estranham. “Ninguém é tão bacana assim”, mas ele segue seu caminho
tentando fazer o melhor que conseguir fazer.
Ele conheceu uma menina e se encantou por ela. Eles diziam e pensavam
coisas parecidas e por isso o toque das mãos, o olhar e o carinho foram
inevitáveis. Logo, começaram um romance intenso e cheio de momentos pra não
esquecer. Ele ficou fascinado com a menina que combinava seu jeito carinhoso
com sua força de enfrentar os desafios da vida, sempre com um sorriso no rosto.
Encantado, o menino fez o que sabia fazer e se fez importante, diferente,
atento e presente em cada momento da vida da menina.
Alguns meses depois, a relação ganhou peso e força. Mas algo o
incomodava. Ele não entendia, nem imaginava, mas seu compromisso em ser super-herói
o tempo todo fazia com que ele demandasse um reconhecimento especial. Esperava dela
uma cumplicidade cega. Nunca imaginou que pudesse ser questionado até
que isso aconteceu. Ela tinha dúvidas naturais, sentimentos naturais,
expectativas naturais e ele entendeu tudo da maneira infantil que os super-heróis
têm para entender as coisas. Uma dúvida é um desafio. Uma dúvida é uma
agressão. Uma dúvida carrega o peso da realidade. É como um balde de água fria
acordando o sonolento.
Ele ainda tentou, de todas as formas, lidar com a questão. Tentou contornar
o assunto como um super-herói faria, tentou recriar a fantasia, tentou mostrar e
ver outros lados da mesma questão. Não percebeu que a questão era justa e
simples. Deu a ela a dimensão de uma questão vital como qualquer super-herói faria.
E, não encontrando solução no seu mundo de fantasia preferiu partir a
transformar a menina num super-vilão.
O Super-Homem tem a Fortaleza da Solidão para os momentos em que ele se
vê só, confuso, perdido. Mas o menino não. Ele tem, de fato, sua própria casa e seus
amigos. Escolheu ficar com ele mesmo, cercado de algumas fantasias que o
convidavam a viver experiências extraordinárias em planetas desconhecidos. Ele fingiu
(para si mesmo) que iria, mas no fundo sabia que não podia ir a lugar nenhum.
Pensou, pensou, pensou e no meio de tanto pensar se deu conta da falta
que a menina fazia. Se deu conta também de como aquilo tudo era tolo. Passou em
frente a um espelho e caiu em si. Ele não era o super-herói em que queria
acreditar. Olhou para ele mesmo e disse: - Você é só um menino, procurando uma
família.
E foi voando procurar a menina.
E foi voando procurar a menina.
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