terça-feira, 2 de julho de 2013

Eu não sabia que existia gente assim.


- Você é diferente!
- Como assim!?
- Você fala o que pensa, sem se preocupar, sem censura. Você se expõe de uma forma que eu não vejo outras pessoas fazerem. Você não tem preconceitos e diz suas verdades, sem medir o que está dizendo.
- E o que é que tem de diferente nisso?

O menino não entende quando alguém diz que ele é diferente. As pessoas que olham de longe o chamam de grosso, de arrogante, de pretencioso, metido e por aí vai. É comum uma pessoa avisar para a outra: “cuidado com o menino, ele não tem limites”. O menino não entende.

Um dia ele parou para conversar, queria saber o que havia de tão diferente na forma dele falar as coisas, no jeito que ele escolheu para se relacionar com as pessoas e tudo o que ele ouviu foram coisas como: “as pessoas não são assim”. Claro que são, ele pensou, apenas não botam para fora as coisas que pensam e sentem porque não sabem que todo mundo é assim. Não tenho nada de diferente, resmungou.

Mas você se apaixona como quem troca de roupa, acusou um. – Eu? De jeito nenhum. Me apaixono quando percebo a possibilidade de estar com alguém que mexe comigo e quando acredito que vou ficar com esse alguém até a minha velhice, explicou.

O menino acredita que quando está sozinho abre-se um imenso vazio nele. Um vazio que precisa ser preenchido com duas coisas fundamentais: valores e emoções. Se forem apenas emoções o buraco fica só disfarçado. Se forem apenas valores, fica parecendo casa sem reboco. Só os dois juntos são capazes de preencher o vazio.

Para ele, conhecer uma pessoa implica em conhecer seu caráter e valores, e isso passa por conhecer sua relação com a família, com os amigos e com o mundo. Os valores não estão no que é dito, mas nas ações do dia a dia. Mesmo que seja na forma de falar com um garçom, de se dirigir ao porteiro, de tratar os amigos. Em cada pequena atitude as pessoas se revelam como são. Não é que ele observe tudo o tempo todo, mas não dá pra passar batido por uma pequena grosseria como a falta de um “por favor” ou de um “obrigado”. Tudo isso mostra quem a pessoa é e quais são seus valores.

E o menino não entende o que tanto repetem para ele. “As pessoas não são assim!”

Eu sou assim. Aprendi a ser assim. Aprendi que os valores, o caráter e a emoção são o que dão sentido a vida. Aprendi que ser honesto, não mentir, falar o que sente é que é importante e não o contrário, repetiu mais uma vez para ouvir uma pergunta que dói nele: - Então por que você está sozinho?

Pensou, pensou e pensou para responder sem colocar nos outros a responsabilidade dele. Estou sozinho porque sou honesto comigo e com o que eu sinto. Estou sozinho porque as pessoas que eu amei de verdade escolheram outros caminhos e porque deixei de acreditar nas pessoas que eu queria ter amado demais. Estou sozinho porque se não estiver cem por cento com alguém não existe razão para estar com ela. Estou sozinho para poder acreditar que ainda vou encontrar (ou reencontrar) uma pessoa que pense como eu.

- Como assim? Você tem um modelo de pessoa?

Não. Mas tenho parâmetros muito bem definidos daquilo que eu quero e daquilo que eu não quero. A pessoa precisa antes de mais nada saber trocar comigo. Não basta que apenas eu ou ela sejamos capazes de entender e preencher o tal vazio no peito do outro. A pessoa certa preenche e é preenchida da mesma maneira. Ela precisa ser linda, mas linda para mim. Não precisa ser nenhuma modelo com medidas perfeitas, mas precisa ser linda no olhar, precisa ser linda no carinho, linda no sorrir. Precisa saber ser forte e saber ser fraca. Ela precisa estar do meu lado quando eu me sentir ainda mais menino e precisa estar no meu colo quando se sentir mais menina. Precisa entender que tudo tem uma razão de ser e saber a hora de falar e de calar e também de ouvir e se fazer ouvir. Precisa ser verdadeira com ela, não comigo... isso é consequência. Ela precisa acreditar no que faz e no que fala, no que escolhe e no que dispensa. Ela precisa ser romântica e aceitar que eu seja também. Precisa estar comigo muito mais pelo beijo e pelo abraço do que pelas noites de sexo, mas precisa também ser e me deixar ser cúmplice na cama. Precisa perceber pequenas coisas, como um passarinho na janela e dar a ele o valor que ele tem.

- Essa mulher não existe!

- Então eu também não existo.

6 comentários:

  1. Ai que lindo, Edu! Quanta sensibilidade e verdade nesse texto. É tão bonito se mostrar (no sentido de abrir seus sentimentos)... Não sei porque as pessoas geralmente dizem: cuidado, não fique falando por aí o que sente. Gostei muito!

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  2. Se o menino é assim, que assim seja! Se o menino está sozinho por ser verdadeiro com seus sentimentos, paciência... A pessoa certa ainda não chegou, mas virá! Essa é a vantagem de se ter alma de menino: JAMAIS deixar de acreditar! Quem tem, sabe!! ;)

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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