segunda-feira, 1 de julho de 2013

O Menino e sua Alegria.

O menino estava confuso. Ele passou tanto tempo apaixonado pela professora que não percebeu as meninas da sua idade que passavam e olhavam pra ele, vez por outra. E, como ele não reparava nelas, nada acontecia. Ele ficava apenas pensando e lembrando o que a professora havia ensinado. Mas já havia muito tempo que ele não tinha aulas com ela. Ele até tentou continuar aprendendo, mas não conseguiu. A professora, pelo menos na opinião dela, já tinha ensinado tudo o que o menino precisava saber e deveria ter outras aulas com outras professoras.

Coraçãozinho apertado, ele seguiu pela escolinha da vida. Entrou numa sala e aprendeu coisas novas. No início ele até se empolgou. Achava que a nova professora poderia ensinar algo que mudasse sua vida, mas logo ele percebia que a aula nem era assim tão interessante, perdia o foco e se deixava lembrar de outros tempos.

E assim, numa hora de recreio, sentado com um lanche sem graça e sem gosto nas mãos, foi que ele conheceu uma menina, mais ou menos da sua idade. Seu nome era Alegria, disse ela. Ele olhou espantado e perguntou: - Sério!?! Seus pais deram a você o nome de Alegria!?!

Ela riu. Disse que não, que na verdade seu nome era Felicidade e que Alegria era só o apelido pelo qual ela gostava de ser chamada. Ele riu também sem saber se era sério ou não e começaram a conversar.

Ela disse que sempre reparava nele e que ele parecia sempre distante, como se estivesse sempre sonhando. Ela confessou que por várias vezes já havia passado bem na frente dele pra chamar sua atenção e nada. Até os livros ela deixou cair de propósito na frente dele e nada. Ela disse: - Você pegou os livros e me entregou, mas simplesmente não estava lá. Foi um gesto mecânico, uma generosidade que deve ser sua por essência, mas nada mais do que isso.

Ele confessou que não se lembrava disso e ela perguntou: - Onde você está quando está sonhando!?!

- Eu!?! Bom... você não vai querer saber de verdade e eu não vou inventar uma história pra você, porque você me parece uma pessoa bacana. Ela respondeu dizendo que queria sim saber a tal “verdade” e que tinha todo o tempo do mundo, se ele quisesse contar.

Ele olhou, pensou, olhou de novo e disse: - Vou contar em linhas gerais. Tive uma professora importante na minha vida. Alguém que me ensinou muito mais do que as coisas do dia-a-dia, me ensinou valores, me ensinou a vibrar com a lua cheia, me ensinou a me emocionar com o pôr-do-sol. Tive muitas aulas com ela e mesmo depois do curso acabado, continuei aprendendo, toda vez que me lembrava de um pequeno gesto, uma palavra que eu não tinha dado atenção, coisas assim. Isso já faz muito tempo. Ela não dá mais aulas pra mim e eu não tenho vontade de aprender outras coisas com outras pessoas. Você me entende?

- Entendo e não entendo. Você diz que ela foi sua professora preferida. Você diz que aprendeu muito com ela, como se ela tivesse mudado a sua origem, o seu jeito de ser. Ao mesmo tempo você não é feliz. Como pode ser isso!?! O que é que prende você a uma lembrança que entristece? Que escolha esquisita essa sua. Somos bem diferentes.

- Somos!?! Então me conta um pouco de você! Como você aprende? Que aulas você frequenta? O que faz você feliz!?!

Ela riu um riso largo e disse: - Vem comigo! E ele foi.

- Vamos fazer uma viagem. Vamos dar as mãos e fechar os olhos e vamos nos permitir, combinado?

- Combinado!

Os dois fecharam os olhos e deram as mãos.

- Não vale roubar! Você tem que ficar com os olhos fechados. Ok!?! Agora comece a sentir. Sinta primeiro o vento batendo nos nossos rostos. Com ele vem o cheiro da chuva que se aproxima. Sinta o que isso provoca em você, sinta como é bom beijar o vento e como é gostoso o cheiro da chuva. Agora esvazia a cabeça, imagina a luz de um grande sol e só isso. não deixa mais nada entrar no seu olhar e no seu pensamento. Só o sol. Tá sentindo o calor? Tá percebendo como a luz dele brilha forte? Imagina que você tá chegando um pouco pra trás agora. Tá vendo o céu azul? Os pássaros!? Agora se prepara para voar. Vamos lá falar com os pássaros bem de perto. Pronto!? Vamos lá então! Sente seu corpo flutuar, você está leve. Agora você e o vento são um só. Os pássaros cantam só pra você e, se você olhar lá pra baixo, vai ver o mar e nele os peixes e as ondas. Consegue sentir o cheiro dele? Então vamos dar um mergulho! Um, dois e vamos... você consegue ver toda a vida que existe dentro do mar? Percebe o movimento da maré e os cardumes de peixe que vão de um lado para o outro em uma espécie de dança mágica!? Relaxa...o mar vai te lembrar do aconchego de mãe. Pensa na sua mãe, no tamanho do amor que você sente por ela e em todo o amor que ela deu para você. Pensa em como era quando você ainda não era um menino grande. Lembra do carinho incondicional e da admiração que todo mundo tinha por você... todos falando que você é lindo, todos fazendo planos e compartilhando sonhos sobre você. Lembra das brincadeiras de criança, da ciranda, de roda, das canções. Lembra dos carinhos que você ganhou e que foram tantos e tão bons que fizeram você querer retribuí-los para sempre. Agora, vem comigo, vamos subir numa roda gigante e olhar o mundo lá de cima... olha como tudo fica pequeno, repara como as coisas mudam quando a gente olha de longe. Vamos voar mais um pouco, só pra ouvir o silêncio, sem pressa de chegar, sem medo de cair, sem compromisso de ser, sem nada. Só voar... e depois, vamos voltar e abrir os olhos devagar...

...

- Nossa! O que aconteceu? Que delícia! O que foi que você fez!?!

- Nada. Apenas fechei os olhos e fiquei em silêncio do seu lado por uns quinze minutos. Por que?

- Você me disse um monte de coisas e me levou numa viagem incrível.


E ela riu e apenas perguntou se ele estava mais feliz. Ele estava. E ela disse que nada daquilo era dela. Que tudo aquilo era dele, era ele. E ele sorriu e se deu conta de que ainda estava de mãos dadas e que ele não queria largar. E se levantaram e começaram a andar juntos. O Menino e sua Alegria.

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