Meu pai tinha muita dificuldade em juntar essas três palavras e dizer:
Eu te amo! Não que ele não amasse, amava muito e demonstrava do seu jeito todo
o tempo, mas não havia aprendido a dizer isso. Talvez tenha ouvido pouco, não
sei, não quero julgar. Minha mãe, em compensação, sempre foi generosa com atos
e palavras e essas três, juntas nessa ordem, sempre foram as suas preferidas.
Assim, eu menino ficava entre os dois lados. O homem forte que demonstrava seu
amor num aperto de mão, num presente sem razão, num telefonema sem intenção e a
mulher sensível, ávida leitora de romances inverossímeis, elegante e gentil nos
abraços, nos seus beijos e nos carinhos de toda uma vida.
Lembro-me da primeira vez que disse “eu te amo” para um amor. Éramos
jovens, éramos apaixonados, éramos novos nessa história de amar. O que me
encantou nela foi a possibilidade de amar. Quando me dei conta estava elevado a
uma potência que não conhecia. O primeiro beijo, antes das palavras, os
primeiros carinhos que surgiam com a certeza de que era capaz de amar, o
primeiro possuir já convicto dos sentimentos puros de um menino, tudo isso foi
minha porta de entrada no amor.
Depois, e por toda minha vida, amei muito. Falei muito. Acariciei
muito. Beijei muito. E sempre, o momento de dizer “eu te amo” foi especial. É o
momento que marca o surgimento de uma espécie de círculo mágico que protege os
que amam.
Amor à primeira vista, acho que só tive um. Minha filha. Na verdade já
a amava mesmo antes da primeira vista. Amava e amo incondicionalmente, mas não
é esse o assunto.
No correr da vida, conheci gente que gosta de dizer eu te amo até para
as plantas da sua própria varanda, conheci gente que guarda para o sexo as tais
palavras mágicas, conheci gente que não sabe falar e gente que não sabe ouvir,
mas isso nunca me fez diferente. Assim como na primeira namorada, sigo amando a
possibilidade de voar e de alcançar a mágica de uma forma única.
Com isso, muitas vezes, me vi desejando amar. Querendo dizer “eu te
amo” mesmo antes de ter certeza de estar amando. Opa... mas será que eu já tive
essa certeza algum dia?
Sentir amor não é como sentir dor. Se você der uma topada na cama, você
vai sentir dor e vai saber que está doendo, sem dúvida nenhuma. Mas se você der
uma topada em uma mulher que faça seus olhos brilharem e seu coração disparar,
nem assim você vai ter certeza de que aquilo é amor. Ou vai? Como não tem
sintomas definidos e como não é doença, as pessoas creem na sua forma de amar
como a única possível. Nem sempre é assim.
Garoto ainda, assisti a uma peça de teatro da qual nunca esqueci.
Chamava-se “Aí vem o Dilúvio”. Uma peça divertida que falava sobre os valores
humanos. E no meio da história, um casal (Totó e Clementina) perguntava o que é
o amor. A resposta vinha na forma de uma música cheia de metáforas que apenas
mostrava claramente que não há uma definição clara e única para o amor.
O fato é que amei muito e sempre.
A última vez que disse eu te amo, disse sabendo o que estava dizendo.
Disse com o imenso e intenso prazer de ter encontrado uma mulher que me fazia
feliz a cada momento. Disse porque era o que sentia, era no que eu acreditava.
E mesmo depois de separados o amor sobrevive. Estranho isso. Mas, se pensar um
pouco, sigo amando as pessoas que passaram na minha vida. Outro tipo de amor,
sem desejo, sem vontade de estar junto o tempo todo, sem a esperança de que
seja para sempre. Mas ainda assim, o que eu sinto se parece muito com o amor.
E tem o lugar do amor maior, o amor que não se esquece. Esse lugar fica
reservado a quem apresentou a maior mágica, o maior brilho nos olhos, o carinho
mais intenso, o querer mais sincero, o beijo mais gostoso, o cheiro mais
inesquecível. O amor maior ocupa outro lugar, um lugar do seu tamanho e serve
como certeza de que é possível amar assim. O amor maior é o maior por ser ele
quem define o amor e o sentido de amar.
Falar de amor é sempre complicado. Dizer “eu te amo” não.
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