terça-feira, 9 de julho de 2013

Falar de Amor

Meu pai tinha muita dificuldade em juntar essas três palavras e dizer: Eu te amo! Não que ele não amasse, amava muito e demonstrava do seu jeito todo o tempo, mas não havia aprendido a dizer isso. Talvez tenha ouvido pouco, não sei, não quero julgar. Minha mãe, em compensação, sempre foi generosa com atos e palavras e essas três, juntas nessa ordem, sempre foram as suas preferidas. Assim, eu menino ficava entre os dois lados. O homem forte que demonstrava seu amor num aperto de mão, num presente sem razão, num telefonema sem intenção e a mulher sensível, ávida leitora de romances inverossímeis, elegante e gentil nos abraços, nos seus beijos e nos carinhos de toda uma vida.

Lembro-me da primeira vez que disse “eu te amo” para um amor. Éramos jovens, éramos apaixonados, éramos novos nessa história de amar. O que me encantou nela foi a possibilidade de amar. Quando me dei conta estava elevado a uma potência que não conhecia. O primeiro beijo, antes das palavras, os primeiros carinhos que surgiam com a certeza de que era capaz de amar, o primeiro possuir já convicto dos sentimentos puros de um menino, tudo isso foi minha porta de entrada no amor.

Depois, e por toda minha vida, amei muito. Falei muito. Acariciei muito. Beijei muito. E sempre, o momento de dizer “eu te amo” foi especial. É o momento que marca o surgimento de uma espécie de círculo mágico que protege os que amam.

Amor à primeira vista, acho que só tive um. Minha filha. Na verdade já a amava mesmo antes da primeira vista. Amava e amo incondicionalmente, mas não é esse o assunto.

No correr da vida, conheci gente que gosta de dizer eu te amo até para as plantas da sua própria varanda, conheci gente que guarda para o sexo as tais palavras mágicas, conheci gente que não sabe falar e gente que não sabe ouvir, mas isso nunca me fez diferente. Assim como na primeira namorada, sigo amando a possibilidade de voar e de alcançar a mágica de uma forma única.

Com isso, muitas vezes, me vi desejando amar. Querendo dizer “eu te amo” mesmo antes de ter certeza de estar amando. Opa... mas será que eu já tive essa certeza algum dia?

Sentir amor não é como sentir dor. Se você der uma topada na cama, você vai sentir dor e vai saber que está doendo, sem dúvida nenhuma. Mas se você der uma topada em uma mulher que faça seus olhos brilharem e seu coração disparar, nem assim você vai ter certeza de que aquilo é amor. Ou vai? Como não tem sintomas definidos e como não é doença, as pessoas creem na sua forma de amar como a única possível. Nem sempre é assim.

Garoto ainda, assisti a uma peça de teatro da qual nunca esqueci. Chamava-se “Aí vem o Dilúvio”. Uma peça divertida que falava sobre os valores humanos. E no meio da história, um casal (Totó e Clementina) perguntava o que é o amor. A resposta vinha na forma de uma música cheia de metáforas que apenas mostrava claramente que não há uma definição clara e única para o amor.

O fato é que amei muito e sempre.

A última vez que disse eu te amo, disse sabendo o que estava dizendo. Disse com o imenso e intenso prazer de ter encontrado uma mulher que me fazia feliz a cada momento. Disse porque era o que sentia, era no que eu acreditava. E mesmo depois de separados o amor sobrevive. Estranho isso. Mas, se pensar um pouco, sigo amando as pessoas que passaram na minha vida. Outro tipo de amor, sem desejo, sem vontade de estar junto o tempo todo, sem a esperança de que seja para sempre. Mas ainda assim, o que eu sinto se parece muito com o amor.

E tem o lugar do amor maior, o amor que não se esquece. Esse lugar fica reservado a quem apresentou a maior mágica, o maior brilho nos olhos, o carinho mais intenso, o querer mais sincero, o beijo mais gostoso, o cheiro mais inesquecível. O amor maior ocupa outro lugar, um lugar do seu tamanho e serve como certeza de que é possível amar assim. O amor maior é o maior por ser ele quem define o amor e o sentido de amar.


Falar de amor é sempre complicado. Dizer “eu te amo” não.



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