A vida é engraçada. O menino às vezes tomou atitudes das quais se
arrependeu. Uma delas o obrigou a parar para pensar. Ele estava em um namoro
bom, com uma pessoa boa, cheio de coisas boas por todos os lados. As coisas iam
bem, intensas como sempre, mas bem. Ele se dedicava a entender e a realizar os
desejos da menina e ela devolvia os gestos dele com gestos de carinho e
entrega.
Em algum momento, ela o questionou disso ou daquilo, não faz diferença.
A questão em si foi o que fez com que ele mudar de comportamento. Ser
questionado nunca foi algo muito simples para o menino, apesar de tão natural.
Na maneira dele ver o mundo, sua dedicação, sua entrega, sua devoção aos
relacionamentos em que entrou justificam apenas que o retorno seja em forma de
carinho e amor incondicionais. Ser questionado soava como uma afronta.
Relacionamentos, para ele, sempre foram como os tais sonhos dos quais ele tanto
fala. Questionamentos não, estes são como chutes de realidade no rosto. Sua
reação é acordar, como quem acorda de um sonho bom com o insuportável barulho
de um despertador antigo. Acorda de mau humor, acorda chateado, acorda sem café
e sem vontade de falar. Reage como um menino que dormiu tarde demais e que por
isso não quer ir à escola no dia seguinte. Em um momento rápido ele passa do
menino dos sonhos para o menino sem educação, rude e egoísta dos seus piores
pesadelos. É quando o menino é mais menino, mais infantil, mais menos.
O problema é que perceber isso não é nada fácil. Implica em rever
seus antecedentes quase criminais, em lembrar das tantas vezes em que foi tão
menino e implica em rever seus próprios conceitos e a si mesmo.
Em algum momento ele se deu conta de como era tolo. Em algum momento
encontrou alguém que não desistiu dele nem quando ele foi mais menino. Alguém que
o amou quando ele menos merecia, porque era quando ele mais precisava. Em algum
momento ele teve a sorte de poder voltar atrás, se entender e se desculpar e
seguir menos menino, mais feliz.
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