Os dias passam a seu modo e, como na vida de qualquer menino, os altos
e baixos se sucedem. Um simplesmente não conhece o outro. É como o dia e a
noite que dependem um do outro. Os dias altos e baixos também são assim.
Em um dia baixo, o menino é capaz de ficar todo esquisito. Antes de
tudo, sente-se pequeno. Acorda e, ao pular da cama, fica com a sensação de que
o chão está mais longe. Quase um precipício. Quando seus pés finalmente tocam o
solo ele segue a rotina de todos os dias, bons e maus, em busca de sua caneca
de café. Nestes dias até a caneca tem que ser escolhida com cuidado. Basta um
simples descuido e ela lhe traz lembranças que ele não quer e estraga o café
com o sal das lágrimas. Toma uma, duas e finalmente a terceira caneca esperando
que o dia acorde também. Abre as cortinas e procura o sol que se esconde. O sol
sempre ajuda. Liga a TV para ter companhia e entra no banho esperando que a
água limpe toda sua angústia. Abusa do sabonete. Veste-se com as roupas que
encontra sem olhar no espelho. Parte para mais um dia de trabalho enfadonho. Um
dia baixo é sempre muito chato e com mais horas do que o necessário. O relógio
ainda dorme. As horas demoram mais do que os dias. As conversas parecem tolas e
sua paciência lhe abandona.
Em um dia alto é tudo diferente. O menino levanta-se animado, sorriso
no rosto. Abre as cortinas antes do café e desvenda o sol nascendo por trás das
montanhas verdes. Assiste o nascimento do primeiro raio e lhe dá bom dia! Faz
um café forte. Admira sua cor, seu aroma, seu sabor. Alcança a primeira caneca
que lhe aparece. Tanto faz. Toma uma, duas, três canecas e cada gole parece
melhor do que o anterior. Pega um livro de poesias e lê uma ao acaso e em voz
alta para lavar a alma com sentimentos. Depois, entra no banho, onde canta uma canção
sem se preocupar nem com o ritmo, nem com a letra, nem com os vizinhos. Escolhe
sua camisa favorita, veste-se frente ao espelho e sorri. Perfuma-se. Toma o
rumo da rua como quem vai ao circo. Percebe as pessoas no caminho. Sorri generosamente
como se o sorriso fosse um carinho e como se ele pudesse acariciar o dia. Pena
que as horas voam. Pena que ele não consegue estar com todos de quem gosta
tanto. Quando se dá conta já está de volta em sua cama, agradecendo em uma
prece o lindo dia que teve.
Os dias são assim. A vida é assim. O menino é assim.
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