Guardei. Guardei na gaveta que tinha separado para você. É lá que estão
os sonhos que já não sonhamos mais. Lá, entre uma camisa e uma meia, ficam
agora as cartas e fotografias que você me deu. De vez em quando abro, sinto seu
cheiro, fecho meus olhos e viajo no tempo até seus braços. Me escapa um sorriso
no canto da boca. Respiro fundo e torno a fechar.
Joguei fora. Não tinha nada lá pra ser lembrado. De você guardo apenas
as mágoas. Guardo o momento ruim em que você anunciou que não era eu a mulher
da sua vida, seu grande amor. Joguei no lixo em frente de casa. Não queria
aquilo tudo na minha própria lixeira. Joguei em tempo de ver o caminhão passar
e levar.
Não mexi nelas. Estão ainda por toda a casa. Há um tanto de nós dois na
sala, na cozinha, no quarto. Há de você até mesmo no copo das escovas de
dentes. Não mexi nas nossas lembranças, isso faria com elas virassem apenas
lembranças.
Troquei. Aprendi que era possível trocar as lembranças por outros
momentos, novos, com mais frescor, com mais possibilidades de dar certo. Nossas
lembranças não existem mais. Troquei por outras que não são nossas. Seguirei trocando
até não ter mais o que lembrar.
Chorei. Sobre cada um dos nossos momentos derramei uma lágrima. E a
cada lágrima que derramei ficou uma mancha. Nossas lembranças agora são isso:
marcas das minhas lágrimas que você não amparou, não enxugou, não evitou.
Dividi. Preferi não ficar com todas elas. Algumas não me interessam
mais, pode levar. Fiquei apenas com as boas lembranças, as lembranças dos
nossos momentos, nossos carinhos, nossas gargalhadas, nossos abraços. Dividi
entre as boas lembranças e as que não merecem ser lembradas.
Que lembranças?
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