quinta-feira, 15 de agosto de 2013

O que você fez das nossas lembranças?


Guardei. Guardei na gaveta que tinha separado para você. É lá que estão os sonhos que já não sonhamos mais. Lá, entre uma camisa e uma meia, ficam agora as cartas e fotografias que você me deu. De vez em quando abro, sinto seu cheiro, fecho meus olhos e viajo no tempo até seus braços. Me escapa um sorriso no canto da boca. Respiro fundo e torno a fechar.

Joguei fora. Não tinha nada lá pra ser lembrado. De você guardo apenas as mágoas. Guardo o momento ruim em que você anunciou que não era eu a mulher da sua vida, seu grande amor. Joguei no lixo em frente de casa. Não queria aquilo tudo na minha própria lixeira. Joguei em tempo de ver o caminhão passar e levar.

Não mexi nelas. Estão ainda por toda a casa. Há um tanto de nós dois na sala, na cozinha, no quarto. Há de você até mesmo no copo das escovas de dentes. Não mexi nas nossas lembranças, isso faria com elas virassem apenas lembranças.

Troquei. Aprendi que era possível trocar as lembranças por outros momentos, novos, com mais frescor, com mais possibilidades de dar certo. Nossas lembranças não existem mais. Troquei por outras que não são nossas. Seguirei trocando até não ter mais o que lembrar.

Chorei. Sobre cada um dos nossos momentos derramei uma lágrima. E a cada lágrima que derramei ficou uma mancha. Nossas lembranças agora são isso: marcas das minhas lágrimas que você não amparou, não enxugou, não evitou.

Dividi. Preferi não ficar com todas elas. Algumas não me interessam mais, pode levar. Fiquei apenas com as boas lembranças, as lembranças dos nossos momentos, nossos carinhos, nossas gargalhadas, nossos abraços. Dividi entre as boas lembranças e as que não merecem ser lembradas.


Que lembranças?


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