Não se tratava mais do amor infantil. O menino
chegou à conclusão de que esse já havia morrido. Teve sim, um outro grande amor
antes dos últimos, teve sim. Mas comparar aos outros seria o fim. Ops! Desculpe...
É que o Angenor volta e meia aparece no seu imaginário.
O menino ainda lembrava com carinho e ternura do
seu grande amor. Quase dois anos que já não a via, quase um ano sem trocar uma
mensagem que fosse e ele ainda guardava memórias que voltavam todos os dias.
Eram as pequenas coisas que voltavam. O acordar, o sanduíche, a vista, o riso
fácil. Pequenas coisas.
Mas seu grande amor não era mais amor. O tempo e a
distância e as escolhas transformaram o grande amor do passado em uma linda
memória. Difícil foi apagar o que não precisa ser lembrado. Difícil foi deixar
pra lá as coisas que nunca deviam ter chegado. Demorou. Mas o menino apagou,
deixou pra lá e seguiu.
E, mesmo assim, o menino ainda se perguntava: - Se
já não há mais amor, por que ainda penso tanto? E ele mesmo respondeu, com a
certeza incerta dos meninos, que pensava nela porque fora ela quem definira a
sua busca. De uma pessoa com quem poderia ter sido feliz para sempre – como em
conto de fadas – ela transformou-se em uma referência de sentimento a ser
procurado. Ela já não precisava mais ser procurada, o sentimento sim.
O tanto amar, tanto querer, tanto desejar, tanto,
tanto, tanto serviu para mostrar a ele que o amor era maior do que ele
imaginara. Ele descobriu que há um sentimento maior que qualquer pensamento.
Entendeu a diferença entre carvão e diamante. Percebeu ser maior que sua
altura. Compreendeu que o amor lido nos livros, visto nos filmes, escutado nas
poesias existia de fato e que era melhor e mais importante do que o amor
adequado, comportado, calmo e estável.
Aos poucos, com bastante dor, é verdade, passou a
entender que a menina não era o amor e nem mesmo a dona do amor. Ele era o amor
e ele era o único dono do amor. E, se o amor lhe pertencia então as
possibilidade eram imensas, diversas, ilimitadas. Mas não era fácil lidar com
as novas descobertas sobre o amor.
Buscou novas pessoas, conheceu gente linda, gente
importante, gente bacana, gente maior e mais especial do que ele acreditava
existir. Começou relacionamentos acreditando que a primeira atração podia
crescer, evoluir, ganhar dimensões únicas e incomensuráveis (adoro essa
palavra).
Com algumas viveu momentos
inesquecíveis. Com uma descobriu a alegria de um sorriso, com outra a
tranquilidade do carinho, com outra ainda aprendeu sobre a serenidade e sobre
as escolhas. Estava e sentia-se pronto para entregar seu amor, mas não soube
fazê-lo. E, Mesmo frente ao sorriso, à tranquilidade e à serenidade o menino
não conseguiu viver um amor definitivo.
Seu luto pelo fracasso das relações era só seu, não
precisava e nem deveria ser compartilhado. Era ele quem precisava entender suas
próprias razões. Era ele quem precisava digerir o tanto que abria mão por não
ter chegado lá. Lá aonde? Perguntava-se às vezes.
Chegou a temer que voltasse a pensar na menina que
despertou o tal amor imenso como única solução possível para o seu tanto amar.
Logo entendeu que não era isso. Chegou a temer que o tal amor infantil tivesse
voltado a lhe incomodar o sono, mas logo percebeu que não havia nada de infantil
na sua busca. Chegou a pensar em desistir da busca ideal e em contentar-se com
menos do que o máximo e logo percebeu que isso não era seu.
Escolheu seguir. Escolheu escrever seus sentimentos
com a mesma certeza incerta que o trouxera até ali. E seguiu.
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