sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Certeza Incerta

Não se tratava mais do amor infantil. O menino chegou à conclusão de que esse já havia morrido. Teve sim, um outro grande amor antes dos últimos, teve sim. Mas comparar aos outros seria o fim. Ops! Desculpe... É que o Angenor volta e meia aparece no seu imaginário.

O menino ainda lembrava com carinho e ternura do seu grande amor. Quase dois anos que já não a via, quase um ano sem trocar uma mensagem que fosse e ele ainda guardava memórias que voltavam todos os dias. Eram as pequenas coisas que voltavam. O acordar, o sanduíche, a vista, o riso fácil. Pequenas coisas.

Mas seu grande amor não era mais amor. O tempo e a distância e as escolhas transformaram o grande amor do passado em uma linda memória. Difícil foi apagar o que não precisa ser lembrado. Difícil foi deixar pra lá as coisas que nunca deviam ter chegado. Demorou. Mas o menino apagou, deixou pra lá e seguiu.

E, mesmo assim, o menino ainda se perguntava: - Se já não há mais amor, por que ainda penso tanto? E ele mesmo respondeu, com a certeza incerta dos meninos, que pensava nela porque fora ela quem definira a sua busca. De uma pessoa com quem poderia ter sido feliz para sempre – como em conto de fadas – ela transformou-se em uma referência de sentimento a ser procurado. Ela já não precisava mais ser procurada, o sentimento sim.

O tanto amar, tanto querer, tanto desejar, tanto, tanto, tanto serviu para mostrar a ele que o amor era maior do que ele imaginara. Ele descobriu que há um sentimento maior que qualquer pensamento. Entendeu a diferença entre carvão e diamante. Percebeu ser maior que sua altura. Compreendeu que o amor lido nos livros, visto nos filmes, escutado nas poesias existia de fato e que era melhor e mais importante do que o amor adequado, comportado, calmo e estável.

Aos poucos, com bastante dor, é verdade, passou a entender que a menina não era o amor e nem mesmo a dona do amor. Ele era o amor e ele era o único dono do amor. E, se o amor lhe pertencia então as possibilidade eram imensas, diversas, ilimitadas. Mas não era fácil lidar com as novas descobertas sobre o amor.

Buscou novas pessoas, conheceu gente linda, gente importante, gente bacana, gente maior e mais especial do que ele acreditava existir. Começou relacionamentos acreditando que a primeira atração podia crescer, evoluir, ganhar dimensões únicas e incomensuráveis (adoro essa palavra).

Com algumas viveu momentos inesquecíveis. Com uma descobriu a alegria de um sorriso, com outra a tranquilidade do carinho, com outra ainda aprendeu sobre a serenidade e sobre as escolhas. Estava e sentia-se pronto para entregar seu amor, mas não soube fazê-lo. E, Mesmo frente ao sorriso, à tranquilidade e à serenidade o menino não conseguiu viver um amor definitivo.

Seu luto pelo fracasso das relações era só seu, não precisava e nem deveria ser compartilhado. Era ele quem precisava entender suas próprias razões. Era ele quem precisava digerir o tanto que abria mão por não ter chegado lá. Lá aonde? Perguntava-se às vezes.

Chegou a temer que voltasse a pensar na menina que despertou o tal amor imenso como única solução possível para o seu tanto amar. Logo entendeu que não era isso. Chegou a temer que o tal amor infantil tivesse voltado a lhe incomodar o sono, mas logo percebeu que não havia nada de infantil na sua busca. Chegou a pensar em desistir da busca ideal e em contentar-se com menos do que o máximo e logo percebeu que isso não era seu.


Escolheu seguir. Escolheu escrever seus sentimentos com a mesma certeza incerta que o trouxera até ali. E seguiu.


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