terça-feira, 13 de agosto de 2013

Tão iguais. Tão diferentes.

 
Ser humano, uma espécie fantástica. Capaz de realizar os mais incríveis feitos. Capaz também de destruir tais feitos da mesma forma e ainda mais rapidamente. Ser humano. Isso vale para tudo. Posso falar sobre projetos, planos, construções e posso falar de relacionamentos, valores, compromissos. O ser humano usa a sua capacidade de tomar decisões das mais estranhas formas, todos os dias.

Não, não tenho a menor vontade de falar de política ou de invasões. Minha conversa é sobre sentimento. Minha conversa é sobre a minha incansável capacidade de me surpreender com as pessoas. Pessoas que são o que querem ser, mas só quando lhes convém. Pessoas que descobrem em si a capacidade de mudar de opinião e de mudar de querer. Pessoas que dão meia-volta e seguem como se não estivessem vindo.

Para mim, o mais interessante é perceber que, se em um minuto você é igual a alguém no minuto seguinte você mal o reconhece. De repente, sem qualquer aviso prévio, tudo o que o outro disse ou demonstrou cai por terra.  E eu ainda fico surpreso com isso. Alguns me dizem que é a capacidade de reinvenção do ser humano, como se isso fosse bom. “Fulano se reinventou”. Como assim? Fulano deixou para trás, dentro de alguma gaveta, tudo o que ele era até dois ou três dias atrás? Abriu outra gaveta e depositou ali suas novas esperanças, seus novos valores, seus novos quereres?

E eu ainda me surpreendo. E por me dar conta de tudo isso é que me sinto obrigado a pensar: - Será que eu mesmo já não fiz isso? Será que eu mesmo não mudei de ideia e me transformei em alguém diferente? Já! Confesso que sim! Já me aconteceu de olhar no espelho e ver uma pessoa que não se parecia comigo. Já chorei frente ao espelho enquanto ele ria. E não gostei.

Aprendi com o tempo que é ele quem manda. O tal do tempo é soberano, virtuoso, às vezes covarde, mas sempre sábio. O tal do tempo manda e desmanda. Acelera e reduz. Permite e tira. Entrei num acordo com ele, como na música que ora ao tempo. Combinamos que eu teria por ele mais respeito e ele me devolveria respeito também. Pedi-lhe que se eu ficasse mais tempo com ele, pudesse ter mais dele para mim. Ele aceitou. Disse-me com seu ar maduro, distinto e soberano que ficaria do meu lado.

Um dia, cumprindo o combinado, os relógios pararam. Olhei e todos eles marcavam a mesma hora. Fechei os olhos para rezar, adormeci e o sono me levou para longe. E de lá, pude ver a mim mesmo e a todas as escolhas que fiz na vida. Vi minha infância, vi meus avós, vi meus brinquedos e vi minhas fantasias. Assisti meu primeiro beijo, meu primeiro amor e ao segundo, o terceiro e aos outros também. Matei as saudades de meu pai, seu sorriso, seus conselhos. Ouvi minha mãe me consolar o choro. Vi minha maior alegria no nascimento da minha filha. Vi a mim mesmo perdido. Vi cair. Vi levantar. Vi meu choro na falta do grande amor. Vi minha busca por outros caminhos, outros amores. Vi a mim mesmo cuidando para que fosse cuidado. Vi minha oração com os olhos fechados e acordei. E os relógios seguiam imóveis até que eu dissesse amém.



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