- E se for só fantasia? Se for só ilusão?
Se for fantasia será a melhor fantasia. Se for ilusão, será a mais
intensa das ilusões. Mas não existe essa coisa de “só”. A fantasia merece
respeito, ela é muito melhor do que sua irmã, a realidade. A ilusão também é
bacana, a desilusão é que é o problema.
...
O menino ainda vivia um momento só seu. As pessoas apareciam e ele
desaparecia. Conhecia uma menina aqui, outra ali e seu coração de menino seguia
quieto, controlado pela necessidade de se recompor, pelas lembranças do que
vivera recentemente. Sua incompetência emocional havia aflorado novamente. Ele havia
se deixado levar pelo encanto dos momentos felizes e não se deu conta do que
acontecia. A relação que ele tanto quis que tivesse dado certo, não deu. Ele precisou
entender. Não queria ser injusto com ela. Tampouco queria ser injusto com ele
mesmo. E assim: foram e voltaram, gritaram e falaram, sorriram e choraram. Na
última conversa ele entendeu melhor e tentou explicar melhor. A eterna equação
entre o que se espera e o que há para ser dado não fechava mais. E isso não
implicava no erro de um ou na culpa do outro. Apenas não havia mais solução.
Ele escolheu se apaixonar imediatamente. Por ele mesmo, é verdade.
O que ele descobriu é que a sedutora fantasia, da qual ele jamais
abriria mão, não podia mais ser a única a escolher seus próximos passos. Ela mandava
demais, sabia demais, seduzia demais. A fantasia do menino lhe permitia olhar
para pessoas que ele mal conhecia e encontrar no fundo de seus olhos um mundo
de sentimentos, desejos, deslumbres e sonhos. A fantasia mostrava muito
claramente que a pessoa era mais do que parecia ser. Muitas vezes a própria
pessoa, que por tanto tempo se escondera dentro de si mesma, não entendia
quando ele falava fácil do que sentia por dentro daqueles olhos. Sempre foi assim.
Ele sempre conseguiu ler as pessoas no olhar. Era como uma maldição que ele
queria transformar em encanto.
Seguia seu caminho de menino sem procurar nada. Estava pronto para
conhecer novas meninas, olhar novos olhos, mas não queria. Queria saber mais e
melhor sobre o grande amor, razão da sua eterna busca. Por vezes, ele se
convencia de que não existia tal amor. Que tudo não passava de mais uma das
suas fantasias. Em outras horas, tinha certeza de que o grande amor havia
cruzado seu caminho, uma centena de vezes, e ele sequer notou. Confundia-se. Um
toque de pele, um cheiro, um olhar, um beijo, um sorriso e de alguma forma ele
encontrava o grande amor. Começou a achar que o grande amor não era singular,
era plural. Ele havia encontrado várias partes do grande quebra-cabeças do seu amor.
O que ele nunca conseguiu foi juntar tudo em uma só pessoa.
Seguia seu caminho de poeta. Pensava sobre a inutilidade da lua cheia
para quem não ama. Pensava sobre o absurdo de um pôr-do-sol que não foi visto. Pensava
sobre a viagem que não faria sozinho. Pensava sobre as flores que murchariam na
floricultura porque ele não as daria. Pensava sobre os versos que não faria.
Seguia seu caminho de poeta.
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