segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Labirinto


Um grande labirinto. O menino pensava que a vida era um grande labirinto. Ele já estava andando havia muito tempo. Seguia seu rumo, sem rumo e entrava em todas as entradas em que podia entrar. Entrava por uma porta linda, cheia de flores e cheiro de mato e seguia certo de que esse era o caminho, mas não era. Voltava ao início e buscava novas entradas. Entrava em outro canto, meio escuro, mas interessante e desafiador. Seguia por entre estrelas e lugares diferentes que não o levavam a lugar algum, a não ser de volta ao início.

O menino sentia-se perdido, cansado de errar, mas disposto a continuar tentando. A cada novo caminho que ele seguia, encontrava algo de novo, algo que ele não conhecia e aprendia. Entrou em caminhos curtos e em caminhos longos e acabou sempre voltando ao início. Olhava para a entrada e pensava com ele mesmo: “eu jurava que esse era o caminho certo...” Descansava um pouco e voltava a procurar a porta que o levaria ao seu destino.

Uma vez adormeceu enquanto descansava. E no sonho lhe apareceu uma luz. Tentou olhar, saber quem era aquela luz, mas não conseguia. Era de várias cores. Pulsava como uma estrela. Tinha um brilho forte, bonito. Sentia que a luz era cheia de vida. Ela flutuava a sua frente como quem quisesse mostrar o caminho, pensava ele.

- Luz tão bonita, que bom que veio me ver. Será que você pode me mostrar o caminho certo?
- Menino sonhador, não existe caminho certo.
- Então estive perdido esse tempo todo à toa?
- Claro que não. Você esteve o tempo todo seguindo seu coração. Isso não é pouco.
- Mas, e o caminho que eu busco? Como seguir se não há caminho certo?
- Fazendo seu próprio caminho menino, fazendo seu próprio caminho...

E as palavras ficavam no ar enquanto a luz parecia ir para longe. O menino queria seguir a luz, mas não conseguia. Estava paralisado, tentando entender o que havia acontecido. Acordou ainda assustado com o que tinha acontecido. Era dia claro. Olhou para o lado e viu que o lugar de onde ele sempre partia e para onde ele sempre chegava estava muito mal cuidado. Uma grande bagunça. Resolveu que iria arrumar aquilo tudo antes de tentar de novo. Quem sabe assim ganhasse tempo para entender o que a luz dissera.

Começou por recolher do chão as memórias que trazia de cada um dos caminhos que havia seguido. Encontrou uns guardanapos e já ia jogá-los fora quando viu que em cada um deles havia algo escrito. Sentou-se e começou a abri-los com cuidado. Eram poesias, pequenos versos que ele mesmo havia escrito nas mesas dos bares por onde esteve nos primeiros caminhos que escolheu seguir. Riu de si mesmo e dos fragmentos de emoção que ele havia tido a coragem de escrever ali. Guardanapos de bar, pensava ele. Que tipo de gente escreve poemas em guardanapos? E riu, se dando conta que ele era o tipo de gente que fazia isso. Guardou os guardanapos com cuidado e voltou para a arrumação.

Outros papéis lhe chamaram a atenção. Estavam em um canto, quase amarelados. Estavam dobrados e tinham pequenas marcas nos cantos. Eram coloridos e ele parou novamente para ver do que se tratava. Abriu o papel verde claro e encontrou uma mensagem de realejo. A marca era do bico do periquito que havia escolhido sua sorte. Na sua memória, o som gostoso do realejo voltou correndo, e ele sentou-se para ler o que o futuro lhe reservara. Eram coisas boas e ele sorriu um sorriso de menino. E guardou os papéis, com carinho, em um lugar bem especial.

Parou novamente e pensou em tomar um café. E um cheiro de café queimado com açúcar invadiu o ambiente. E ele fechou novamente os olhos e lembrou-se da cozinheira da casa dos seus avós que pingava o café no fundo de uma pequena panela e o fervia com açúcar para se deliciar com o sabor forte e com o cheiro doce. O sabor lhe voltou fácil. Fez e tomou o café da mesma forma que a velha cozinheira havia lhe ensinado nos caminhos de criança. Ganhou ânimo para continuar e voltou à arrumação.

E pelo tempo em que se dedicava a varrer, encontrar e guardar lembranças, jogar fora o que não prestava para nada, passar pano para polir as melhores memórias, ele se dava conta do tanto que havia caminhado. Quantas lembranças, quantas memórias, quantos sabores, cheiros, visões, sonhos, fantasias. Quanta coisa...

E quando acabou de colocar a última lembrança no lugar devido, assustou-se. Uma luz invadiu o lugar, a mesma luz dos seus sonhos e ele sabia que não estava mais dormindo.

- Você fez um belo trabalho aqui.
- Era preciso
- Sim, era preciso para que você pudesse encontrar seu caminho certo.
- Mas não sai do lugar! O que você quer dizer com isso?
- Que já não há mais portas. Não há mais idas e vindas. É só seguir em frente. Seu caminho é onde você quiser ir. Você não precisa mais se perder para se encontrar.



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