terça-feira, 10 de setembro de 2013

Sonhando com o futuro


As palavras não vão sair. Elas estão presas. Por alguma razão elas não querem falar comigo hoje e eu não tenho nada para escrever. O que será que eu fiz para elas me tratarem assim? Será que andei pensando demais? Será que gastei as palavras nos pensamentos que passeiam sem parar pela minha cabeça? Não sei bem. Sei que acordei morrendo de saudades das palavras e elas não vieram conversar comigo hoje.


Dormi bem sim. Dormi relaxado do jeito que eu mais gosto, na cama que eu mais gosto, com a mulher que eu mais gosto. Dormi feliz o sono de quem se lança na vida como quem se lança nos sonhos. Dormi atento àquele momento em que fecho os olhos e me dou boa noite, e me deixo levar pela magia do sono. O corpo encontra sua posição, não preciso mais mexer, posso ficar parado e me deixar levar da maneira que for. Então a cabeça começa a visitar lugares imaginários ou reais que já passaram na minha vida de alguma forma. Vejo o clube da infância, onde aprendi a nadar. Vejo a fazenda de um tio que frequentei muito no início da adolescência. Vejo campos e campos de flores e de matas. O coração dá uma suspirada, a mente se despe do meu corpo e ganha vida própria e me permite viajar solto no ar.

E aí, o sonho.

Sonhei com o futuro. Vi os dias, meses e anos que virão pela frente. Tudo muito rápido e lá estava eu ao seu lado, de mãos dadas e sorrindo. Você mandava eu me cuidar, fechar a blusa, vestir um sapato. Sorria fácil. Me olhava com carinho e se aninhava nos meus braços dizendo que era feliz. Eu beijava seus cabelos e depois seu rosto e procurava sua boca para um beijo a mais. E você sorria novamente.

Levantamos os olhos e vimos as crianças. Crianças das nossas crianças. Todos sorrindo e brincando. Todos em nossa volta, esperando o jantar, tomando um drink, contando histórias e pedindo nossas opiniões sobre o que acontecia na vida deles. Contavam tudo e contavam com nós dois e com as nossas palavras para saber o que fariam. Eu me lembrava então das que ouvia do meu pai e repetia, adequando o texto para dar caminhos aos nossos filhos e netos. Você lembrava-se das que a sua mãe dizia e repetia, dando credito a ela, todos os bons conselhos de uma forma direta, mas com o mesmo carinho de mãe, sua herança predileta.

E eu olhava para você e perguntava se eu tinha conseguido. Você me olhava também e dizia: - Conseguido o quê? E eu respondia: - Conseguido ser o boa praça que uma vez eu disse que queria ser. E você deixava escorrer uma lágrima e me beijava dizendo que sim.

Eu ainda me lembrava do dia em que você me disse que queria que seus filhos tivessem meus valores e me perguntava se tinha lhe dito a mesma coisa sobre a minha filha, e também se havia lhe dito que eu também queria ter seus valores e do seu pai e da sua mãe para mim.

...

E acordei abraçado em você, acarinhando seu rosto, beijando seu cabelo e sua face e sua boca e dizendo que ia me levantar para fazer café e que te amo.

E as palavras acordaram também.


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