O menino se perguntava, volta e meia ou meia volta, o que ele estava
fazendo da sua vida. Claro que a vida já havia aprontado com ele como apronta
com todo mundo, mas a sua questão era saber se ele era mesmo o dono da sua vida
e se as suas escolhas eram mesmo as melhores escolhas que ele podia tomar.
É muita responsabilidade. Não dá pra errar, ou pelo menos: não dá pra
errar muito. Desde criança as escolhas tem que ser feitas e pensadas, todos os
dias. Vou comer bem? Vou brincar? Vou ligar para os meus avós e dar um beijo? Vou
ser educado? Vou respeitar os mais velhos? Vou fazer birra? Tudo tem
consequências. Se não comer bem pode ficar doente, se não brincar, pode virar
um chato, se não ligar para os avós pode perder uma chance única, se não for
educado pode ser excluído dos grupos e por aí vai. Tudo tem consequências e elas
são, quase sempre, imprevisíveis.
O menino sempre acreditou que a vida é uma longa estrada com inúmeras
bifurcações. A todo o momento há escolhas para serem feitas. Não dá pra fugir
disso. Não dá pra deixar a vida levar, porque ela não leva quem não se mexe,
quem não escolhe. São as escolhas que vão levar cada um ao seu destino. E o
destino não é a felicidade, a felicidade é o caminho.
Passam os anos e o menino se vê obrigado a olhar para trás. Volta e
meia ele precisa parar, sentar na beira do tal caminho e olhar para trás. Ficar
ali, pensando sobre como foi que ele chegou onde está. Em que momento ele
preferiu seguir pela direita. Quando foi mesmo que escolheu sua profissão. Como
é sua relação com a família e amigos. Que critérios ele usou para amar e para
ser amado. O que é que ele ainda quer construir. Do que foi que ele já
desistiu. E assim por diante.
Questões nunca faltam. Talvez tenha faltado tempo para ir mais fundo
nelas. Às vezes, sentado ali, viu alguma coisa passando e escolheu seguir ao
invés de pensar, e foi. Mas as questões sempre estiveram por perto.
Um dia, um amigo lhe disse que ele não percebia que existia gente ruim
por aí. Ele se assustou: - Gente ruim como? Ruim de nascença? Não acredito
mesmo que existam! Mas o amigo insistiu e avisou: - Existem sim. Você não pode
tomar os outros pela maneira que você é. Na vida você vai encontrar gente que
simplesmente não vale a pena, porque são rasas, pequenas ou porque são más
mesmo. Escolheram viver a vida procurando uma maneira de terem mais coisas e
passam por cima, uns dos outros, para conseguir o que querem.
- Mas... Para que isso?
E lá vinha mais uma questão para ele parar e pensar. Ele não era santo,
mas não acreditava na maldade como característica das pessoas. Pensava se por
isso tinha sofrido onde achou que não sofreria e se era essa a razão de algumas
das suas maiores frustrações. Ele simplesmente não entendia e também não havia
nada o que ele pudesse fazer. Seguiria seu caminho do jeito que é e que sempre
foi, parando e pensando que deve estar sempre pronto para responder a pergunta
que todo mundo faz a si mesmo em algum momento: - O que eu fiz da minha vida?
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