O menino nunca gostou de dias de chuva. Parecia para ele que o mundo
andava de mau-humor. Parecia que o céu estava triste, que o sol tinha se
aborrecido com alguma coisa e sumido por um tempo. Ele ficava triste também,
não sabia como achar ânimo para aproveitar os dias em que o sol não aparecia.
Foi em um desses dias que o menino abriu seus olhos cedo demais, por
volta das cinco e pouco da manhã. Acordou feliz, como sempre acorda, e abriu a
janela para dar bom dia ao dia. Nuvens escuras e carregadas de gotas d’água estavam
por ali e ele encolheu o sorriso.
Resolveu voltar a dormir, e sonhou...
Havia um campo de mato verde por onde o menino cavalgava em um cavalo
lindo. Estava sozinho. Afagava o cavalo, seu velho amigo, e o deixava, vez por
outra, escolher o caminho. Levantava a mão e comandava com sons curtos o
galope. Sentia o vento no rosto. Ouvia apenas o barulho da sela no lombo do cavalo
e a respiração ofegante e contente. No céu, um lindo azul pontuado com nuvens
brancas emoldurava a paisagem. Que dia lindo, pensava o menino em seu cavalo.
De repente, um trovão...
O telefone toca e uma amiga pede que ele chame uma ambulância para o
filho que está tendo uma crise convulsiva. Ele para de escrever e faz o que foi
pedido. O telefone não completa a ligação, o maldito som de ocupado ressoa
várias vezes nas muitas tentativas que fez. Ele liga para o médico, amigo, que
ocupa um cargo importante no hospital em que o filho da amiga precisa chegar e
o telefone também não responde. A amiga liga de novo... O filho voltou a si e
ela vai pegar um táxi para o hospital. Nem por isso ele fica mais tranquilo,
mas só o que pode fazer é rezar.
E o menino reza e pede uma oração para quem for de oração. Pensa no
filho, pensa na mãe e reza: Ave Maria, cheia de graça. O Senhor é convosco.
Bendita sois vós entre as mulheres. Bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.
Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa
morte. Amém.
E acordado, lembra-se o quanto detesta dias de chuva.
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