quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Lápis de Cor



Uma caixa de lápis de cor. Foi o melhor presente que o pai do menino trouxe da última viagem. Deu junto com os chicletes de sempre, o par de tênis, algumas camisetas, muitos chocolates e brinquedos eletrônicos que ele nem imaginava como poderiam funcionar. Mas foi a caixa de lápis de cor que o deixou mais feliz. E o pai explicou que aqueles eram lápis aquarelados. Bastava molhar a ponta para obter um efeito de aquarela nos desenhos do menino, que nem deu bola pra isso. Beijou o pai como se ele pudesse entender o tamanho da sua felicidade e foi correndo – meninos estão sempre correndo – procurar folhas de papel em branco.

Sentou-se na escrivaninha, colocou as folhas de papel a sua frente. Olhou para a caixa e a abriu pela primeira vez revelando todas as cores de uma só vez. Era lindo, pensou ele.

O primeiro desenho foi o mais infantil dos desenhos. Uma casa com porta e janelas, um caminho na frente, morros de mato verde atrás e um lindo sol nascendo entre os montes. Usou o verde para a grama, o vermelho para o teto da casa, o marrom claro para as paredes, o azul escuro para a porta, o claro para o céu e o amarelo para o sol. Desenhava e conversava com o desenho como se ele pudesse ouvi-lo. Desenhou o que queria desenhar e depois resolveu plantar uma macieira no jardim e dar um rosto ao sol. Sorriso largo e óculos escuros. Que beleza de desenho.

Acabou e foi leva-lo de presente para a sua mãe. – Olha mãe, o desenho que eu fiz pra você! E a mãe ria e perguntava: - Pra mim, meu filho? Que lindo! E o menino explicava: - É a minha casa mãe, a casa que eu vou construir pra gente morar junto quando eu for mais velho. Vai ter jardim, gramado, árvore, montanha e muito mais... tem umas coisas que nem couberam aqui, como o meu cachorro e meu cavalo, mas isso eu desenho depois. Beijou sua mãe e voltou para a escrivaninha.

Outro papel. E a imaginação dele corria solta. Pensava no que desenharia desta vez. Pensou no mar e começou a desenhar um barquinho em um leito de águas de todos os azuis. Velas abertas, vento soprando forte e o barquinho navegava seguro no limite da folha. Desenhou um céu com um azul bem clarinho e o sol de óculos escuros brilhando forte, cheio de raios imensos. Sorria e desenhava. E entregou esse novo desenho para o pai, dizendo que era nesse barco que eles iriam viajar o mundo, enfrentar piratas, conhecer as praias mais lindas, mergulhar com os peixes que ele não havia desenhado e passar muito tempo juntos, quando ele fosse mais velho.

O pai sorriu, sonhando que o filho conseguisse seus desejos e que ele tivesse tempo para viver os sonhos junto com ele.

Voltou mais uma vez para o papel e percebeu que havia cores que ele ainda não havia usado. O roxo, o rosa, o laranja, o turquesa e outros que ele nem sabia o nome. Teve uma ideia e começou novamente a desenhar. Desta vez: o maior arco-íris do mundo, com todas as cores do estojo, uma completando a outra e todas fazendo a curva mágica que acabava atrás de uma montanha.

- Esse desenho eu vou guardar pra mim, pensou. É pra não esquecer nunca, nem quando eu ficar mais velho e tiver minha casa e meu barco, que o arco-íris mora dentro da caixa de lápis de cor.



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