Uma caixa de lápis de cor. Foi o melhor presente que o pai do menino
trouxe da última viagem. Deu junto com os chicletes de sempre, o par de tênis,
algumas camisetas, muitos chocolates e brinquedos eletrônicos que ele nem
imaginava como poderiam funcionar. Mas foi a caixa de lápis de cor que o deixou
mais feliz. E o pai explicou que aqueles eram lápis aquarelados. Bastava molhar
a ponta para obter um efeito de aquarela nos desenhos do menino, que nem deu
bola pra isso. Beijou o pai como se ele pudesse entender o tamanho da sua
felicidade e foi correndo – meninos estão sempre correndo – procurar folhas de
papel em branco.
Sentou-se na escrivaninha, colocou as folhas de papel a sua frente.
Olhou para a caixa e a abriu pela primeira vez revelando todas as cores de uma
só vez. Era lindo, pensou ele.
O primeiro desenho foi o mais infantil dos desenhos. Uma casa com porta
e janelas, um caminho na frente, morros de mato verde atrás e um lindo sol nascendo
entre os montes. Usou o verde para a grama, o vermelho para o teto da casa, o
marrom claro para as paredes, o azul escuro para a porta, o claro para o céu e
o amarelo para o sol. Desenhava e conversava com o desenho como se ele pudesse
ouvi-lo. Desenhou o que queria desenhar e depois resolveu plantar uma macieira
no jardim e dar um rosto ao sol. Sorriso largo e óculos escuros. Que beleza de
desenho.
Acabou e foi leva-lo de presente para a sua mãe. – Olha mãe, o desenho
que eu fiz pra você! E a mãe ria e perguntava: - Pra mim, meu filho? Que lindo!
E o menino explicava: - É a minha casa mãe, a casa que eu vou construir pra
gente morar junto quando eu for mais velho. Vai ter jardim, gramado, árvore,
montanha e muito mais... tem umas coisas que nem couberam aqui, como o meu
cachorro e meu cavalo, mas isso eu desenho depois. Beijou sua mãe e voltou para
a escrivaninha.
Outro papel. E a imaginação dele corria solta. Pensava no que
desenharia desta vez. Pensou no mar e começou a desenhar um barquinho em um
leito de águas de todos os azuis. Velas abertas, vento soprando forte e o
barquinho navegava seguro no limite da folha. Desenhou um céu com um azul bem
clarinho e o sol de óculos escuros brilhando forte, cheio de raios imensos. Sorria
e desenhava. E entregou esse novo desenho para o pai, dizendo que era nesse
barco que eles iriam viajar o mundo, enfrentar piratas, conhecer as praias mais
lindas, mergulhar com os peixes que ele não havia desenhado e passar muito
tempo juntos, quando ele fosse mais velho.
O pai sorriu, sonhando que o filho conseguisse seus desejos e que ele
tivesse tempo para viver os sonhos junto com ele.
Voltou mais uma vez para o papel e percebeu que havia cores que ele
ainda não havia usado. O roxo, o rosa, o laranja, o turquesa e outros que ele
nem sabia o nome. Teve uma ideia e começou novamente a desenhar. Desta vez: o
maior arco-íris do mundo, com todas as cores do estojo, uma completando a outra
e todas fazendo a curva mágica que acabava atrás de uma montanha.
- Esse desenho eu vou guardar pra mim, pensou. É pra não esquecer
nunca, nem quando eu ficar mais velho e tiver minha casa e meu barco, que o
arco-íris mora dentro da caixa de lápis de cor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário