O menino ouvia seu pai repetir que as melhores coisas da vida são as
pequenas coisas. No início ele mal entendia o que isso queria dizer. Ouvia o
pai, sábio, e descobria que ele ainda não sabia bem o que eram coisas pequenas
e coisas grandes. Para o menino, as melhores coisas da vida simplesmente eram.
Com o tempo, com os hábitos da infância, ele descobriu o prazer de
andar de mãos dadas com o pai. Andavam sempre com destino certo e sempre de
mãos dadas. O pai tinha um passo ligeiro e ele aprendeu a acompanha-lo na
proporção de um passo e meio para cada passo largo do pai. Não pensava no
cansaço. Pensava na mão forte e firme que o segurava e que ele não queria
largar. Uma coisa à toa, talvez, mas muito longe de ser uma coisa pequena.
Quando doente, recebia todos os carinhos do pai. Primeiro uma ligação
que disfarçava a preocupação, depois, em algum momento do dia, uma surpresa.
Podia ser uma sacola entregue em casa pela banca de jornais e que continha suas
revistinhas favoritas, podia ser um livro ou um disco há tempos desejado, podia
ser sua comida favorita. O fato é que a surpresa sempre vinha e sempre alegrava
o menino que ligava feliz e agradecido pelo gesto do pai que gostava de vê-lo
sorrindo. Isso também não era pequeno, ainda que não fosse grande.
O menino aprendia e levava consigo o valor das boas coisas da vida. Foi
assim que ele aprendeu, foi isso o que herdou e por várias vezes na vida
repetiu.
Menos menino, ele muitas vezes perdeu-se nos próprios pensamentos. Não
sabia o que era bom de verdade e o que não era. Sua maior dúvida era separar o
grande do pequeno, o importante do menos importante. Permitia-se viver com
intensidade todos os momentos da sua vida porque sabia que a vida lhe pertencia
e que só ele poderia fazer dela o que ele quisesse.
Nos amores que teve, e não foram poucos, ele percebeu que também havia
diferença entre o grande e o pequeno, entre o importante e o menos importante. Tinha
sempre a necessidade de oferecer, de proporcionar, de encantar, de seduzir. E nem
sempre isso era necessário, mas isso ele não sabia. Aos poucos, ele imaginou
que o importante era o que marcava. Gestos grandes, surpresas, exageros,
arroubos, fantasias. Tudo o que saísse do medíocre ganhava importância, era
relevante. Na sua forma de ver o mundo, esqueceu o conselho do pai, e lutava
para ser sempre o inesquecível, o único, o especial. Uma necessidade quase infantil
de ser reconhecido, aceito, desejado e separado do resto.
Escolheu a vida de poeta que tudo pode, tudo quer, tudo sonha, tudo
existe na intensidade das palavras e dos atos. Queria ser admirado por isso e
não se dava conta que vestia uma personagem e que corria o risco de se esquecer
do menino que nunca deixou de ser.
Um dia, ouviu de uma menina, por quem ele tinha um dos maiores afetos e
carinhos que jamais teve, que ele não precisava mais seduzi-la, que ele não
precisava mais surpreender, superar expectativas, entregar sonhos, criar
fantasias. Ouviu que ela preferia dar valor as pequenas coisas e que na opinião
dela as pequenas coisas são as melhores coisas da vida.
E o menino cresceu.
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