segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Depois da Montanha-russa



Tudo começou como começam as histórias imprevisíveis, improváveis, imprescindíveis. Uma amiga em comum convidou os dois para se conhecerem. Um chopp. Um bate-papo. Um dia qualquer e os dois, desconfiados, aceitaram.

O menino chegou antes e tomou seu primeiro chopp sozinho. Elas chegaram depois e sentaram e começaram a conversar uma conversa fácil. Havia muito em comum entre os dois. Havia um bem querer natural, inexplicável que crescia a cada chopp. A amiga vibrava com os dois se conhecendo e se entendendo. É que os dois haviam dito para a mesma amiga que estavam prontos para viver um novo amor. Era coincidência demais. E ela quis apresenta-los.

Ele disse a ela que não sabia mentir. Ela disse que isso muito a interessava. Eles riram, os chopps foram ficando pelo caminho, uma outra amiga apareceu e as amigas conversaram enquanto os dois fugiam para uma viagem só dos dois. Parecia mesmo que o mundo em volta não existia. A ânsia de saber a razão da demora do outro era grande. Contavam sobre a vida, a família, filhos, experiências e tudo mais para que pudessem viver a intimidade que havia nascido no primeiro olhar. “Como pode ser assim?” pensavam os dois. Ela ria, ele ria.

Encontros assim precisam ser guardados. Talvez por isso olhassem tão fundo, um nos olhos do outro. Aquele encontro parecia um caminho, que levou os dois, da conversa para o primeiro beijo em poucas horas. Beijo com gosto de montanha-russa. Beijo que fez os dois entenderem que o carrinho já tinha subido até o ponto mais alto e que agora bastava levantar as mãos e sentir o frio na barriga, o medo infantil, as curvas, o vento no rosto e tudo mais que só os carrinhos de montanha-russa são capazes de fazer sentir.

“E mesmo com tudo diferente, veio vindo de repente uma vontade de se ver.” E se viram muitas vezes depois. Ele disse a ela: “- Vem comigo!” e ela ia. Eles viveram momentos que não achavam que poderiam mais viver. Acordavam juntos, passeavam juntos, riam juntos, viajavam juntos, dormiam e sonhavam juntos. E a montanha-russa parecia não ter fim. Os dois só se preocupavam com o outro, com a felicidade do outro. E o carrinho corria fácil e rápido, como correm os carrinhos de qualquer montanha-russa.

Quando o carrinho parou e eles tiveram que descer, descobriram que tinham um imenso parque de diversões para conhecer. Olharam um para o outro apenas para ter certeza. Ele queria a certeza de que ela vinha mesmo com ele. Ela queria ter certeza de que estava acordada. E caminharam pelo parque de mãos dadas. Comeram algodão doce, andaram no carrinho bate-bate, rodaram no carrossel, caminharam, sorriram e permaneceram de mãos dadas.

Resolveram, em algum momento, entrar na casa mal-assombrada. E tiveram medo juntos, apesar das mãos dadas. Havia surpresas e sustos por todos os lados e não era isso o que eles estavam procurando, mas já estavam lá. De repente, um susto maior e ela largou a mão do menino, que no escuro procurou por ela. O susto passou e as mãos se encontraram de novo, mas ainda havia muito a andar naquela casa. Seguiram em frente e logo outro susto separou a mão dos dois mais uma vez. Ele nervoso a procurou novamente e novamente a encontrou. E já quase no final um terceiro susto os separou de novo. Dessa vez as mãos se perderam e eles seguiram em frente, cada um do seu jeito, até a saída. Cada um saiu por uma porta, perdidos um do outro. O menino seguiu por um lado. A menina seguiu por outro lado. Não se viam. Não se falavam. Os dois sentiam a falta da mão e do carinho um do outro. Mas seguiram.

Depois de andar pelo parque, o menino decidiu entrar na fila da roda gigante, sem perceber que ela também estava lá. Eram duas filas. Os casais podiam entrar juntos. Quem estivesse sozinho teria que compartilhar o espaço. E quis o destino que eles entrassem juntos. A roda estava embaixo, parecia ter parado por alguns instantes, antes de seguir seu rumo até o alto. Os dois se olharam, choraram, se acarinharam e deram as mãos novamente enquanto a roda subia devagar até bem perto da lua.

E de mãos dadas novamente, os dois pensaram: ainda há muito parque para visitar.




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