segunda-feira, 24 de junho de 2013

Viciado em Fantasia

Esse troço de fantasia é um vício. Pior que cigarro, pior que a maior parte das drogas que eu conheço, pior que álcool. Sei lá, acho que o vício em fantasia é bem complicado de se curar, se é que tem cura. Talvez seja o caso de criar o F.A. – Fantasiosos Anônimos.

...

Meu nome é menino e estou sem fantasia há tanto tempo. Aplausos gerais, seguidos de um depoimento emocionado.

Tudo começou quando eu ainda era muito novo. Minha mãe foi a primeira pessoa a me falar que fantasia era legal. Ela me dizia que eu tinha uma imaginação incrível, que era capaz de imaginar as coisas mais maravilhosas do mundo e que isso era bom. Eu acreditei.

Logo nos meus primeiros namoros a fantasia foi tomando conta de mim. A primeira namorada era a minha razão de viver, minha grande questão existencial. Lembro que liguei para ela e coloquei uma fantasia na vitrola para tocar. Era outro viciado irrecuperável que girava nas rotações da vitrola cantando “Se você quer ser minha namorada...”. Foi quando me tornei um traficante de fantasias. Lembro que a menina quis comprar comigo e eu vendi muita fantasia pra ela. Ríamos, saíamos, brincávamos, éramos muito felizes enquanto durou.

Eu consumia tanta fantasia que acabei querendo vender para outras pessoas também. Encontrei outra menina que quis experimentar e depois outra e assim por diante. Quando me dei conta tinha virado o fornecedor oficial de fantasia para um monte de gente. Uma de cada vez, é bem verdade, mas não parava de vender.

O tempo passou e um dia encontrei uma moça que queria me tirar dessa vida. Parei de vender fantasia por um bom tempo, quase quinze anos. Mas no meio dessa história tivemos uma filha e com ela o gosto pela fantasia reapareceu. Olhava para aquela criança e pensava: - Será que ela não vai sentir o gosto de fantasia? E aos poucos fui voltando a pensar nisso, até que optei por uma separação e novamente o mundo da fantasia me pegou.

Logo depois conheci a maior fantasia de todas. Não sei bem se ela era tão viciada quanto eu, mas consumimos quantidades industriais de fantasia juntos. Tanta, mas tanta fantasia que acabamos tendo uma overdose. Confesso que sobrevivi com dificuldades. Reduzi a dose e aos poucos fui tomando o controle de novo.

Conheci outras pessoas. Consumi mais fantasia. Mas sempre em doses menores. Até que conheci outra fantasia muito grande e quase me deixei levar pelo consumo sem limites. Os efeitos eram poderosos, mas o fato de saber que era fantasia me deixava apavorado. O medo de uma nova overdose é maior do que a minha necessidade, maior que meu vício.

Algumas pessoas me falaram e continuam me falando que isso tem tratamento, tem cura. Eu sei, ouvi muito falar do remédio, mas também tenho medo dele. Dizem que a tal Realidade embrutece, endurece, amadurece e cega as pessoas.

Meu nome é menino e estou sem consumir fantasia há um tempo. Não sei quanto tempo vou conseguir viver sem ela ou se um dia descubro a dose certa que tomada junto com o remédio não faz mal e não me faz diferente do que sempre quis ser.


Essa é minha história.

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