O menino estava lá. De um lado pro outro, sempre arrumando
uma forma de passar perto da sua mãe que conversava com uma de suas amigas de
faculdade. A mãe entrou muito tarde no mundo universitário e por isso tinha
mais experiência e mais opiniões para compartilhar com as amigas. Ela virou uma
espécie de irmã mais velha de todas elas.
O menino tentava escutar a conversa, mas só conseguia
entender partes dela. Sabia que a amiga da mãe tinha dúvidas sobre namorar ou
não um homem casado. Entendeu que ela havia saído algumas vezes com o tal homem
e isso despertava uma enorme curiosidade nele. Pode isso?
Ele não conseguiu ouvir muito naquele dia, mas o assunto o
perseguiu.
- Mãe... posso perguntar uma coisa?
- Claro filho!
Foi a senha pro início de uma conversa franca. Ele queria
saber se era normal que os homens casados saíssem com outras mulheres e mesmo
se ele poderia sair com outras meninas mesmo tendo sua namorada.
A mãe, sábia, devolvia as perguntas com perguntas. Ele
perguntava se podia sair com outra e ela perguntava se ele tinha vontade. Ele
perguntava se as mulheres aceitavam isso e a mãe perguntava se era aceitável.
Foi uma daquelas conversas que ajudaram o menino a formar seu caráter. Não ele
não tinha vontade de sair com mais ninguém. Não ele não achava aceitável.
Alguns anos se passaram e ele conheceu uma menina, um pouco
mais velha, na faculdade. Bonita e sensual, a moça logo lhe chamou a atenção e
ele, sempre sedutor deu um jeito de emendar uma conversa em uma cerveja e uma cerveja
em um beijo e um beijo em uma saída para um tal de “lugar mais reservado”.
Os carinhos cresceram, a vontade cresceu e logo eles se
agarravam como amantes antigos. Um procurava no corpo do outro alguma parte que
ainda não tivesse sido acarinhada ou beijada para que não ficasse nada de fora.
Ele experimentava beijos na nuca, pequenas mordidas na
orelha enquanto passava sua mão grande no torso da mulher recém-conquistada que
gemia e se entregava. Acabaram na casa dele e aquela fome quase selvagem virou
um sexo delicioso, cheio de descobertas, sensualidade, erotismo, palavras
limpas e sujas se misturando sem pudor.
O macho dentro daquele menino enchia seu peito de prazer. A
conquista tinha se realizado. Ele estava dentro da sua presa e ela gozava alto,
gemia alto, enlouquecia alto e tudo isso lhe dava o prazer de quem conquista
uma montanha que nunca foi escalada.
Na hora do cigarro de depois, ela corta o clima e avisa: - Preciso
ir embora, meu marido já deve estar em casa.
O mundo dele cai por terra. Marido? Como assim? Você falou
marido???
Depois eu te explico, foi tudo o que ele ouviu. Ela foi
embora e ele seguiu pensando noite adentro. Seu tesão e sua vontade viraram
repúdio imediato. Ele se prometeu não sair mais com aquela mulher. Mas os
pensamentos não paravam e as questões surgiam, uma depois da outra... foi
difícil dormir naquele dia.
Dois dias depois ele reencontrou a mulher casada. Mesmo lugar,
mesmo cenário, mesmo roteiro e pior: mesma vontade.
Ela já chegou beijando ele que rendeu-se fácil ao afago. Seu
cheiro mexia com ele. Sua pela mexia com ele. Ela mexia com ele. Quando se deu
conta já estavam de novo na casa dele seguindo os instintos mais primitivos
negando as verdades mais básicas. Foi bom novamente. Mas não foi tão bom.
Acendeu o mesmo cigarro e antes dela sair correndo pra sua
casa ele disparou. Eu não vou mais ver você. Andei pensando e acho que se você tem
um marido e um amante é porque você não gosta de você mesma. E se você não
gosta de você, não sou eu quem vai gostar.
As palavras doeram nela. Houve choro. Houve explicações. Houve
lamento. O menino conversou, ouviu, falou. Ela também. Ao final, ele disse que
o que acontecia é que ele não conseguia mais acreditar em uma relação possível.
Seus sonhos e fantasias tinham evaporado. Ela dizia que o que eles tinham era
só deles. Ele ouvia dizia que não tinham nada, só o sexo pelo sexo. O que para
ele era muito pouco.
A honestidade da conversa fez bem aos dois. Viraram amigos. Ganharam
o respeito um do outro. Nunca mais saíram juntos, mas ele estava lá para secar
as lágrimas dela quando ela se separou do marido. E estava lá, como padrinho do
segundo casamento dela.
E foram felizes para sempre.
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