segunda-feira, 24 de junho de 2013

Pode isso?

O menino estava lá. De um lado pro outro, sempre arrumando uma forma de passar perto da sua mãe que conversava com uma de suas amigas de faculdade. A mãe entrou muito tarde no mundo universitário e por isso tinha mais experiência e mais opiniões para compartilhar com as amigas. Ela virou uma espécie de irmã mais velha de todas elas.

O menino tentava escutar a conversa, mas só conseguia entender partes dela. Sabia que a amiga da mãe tinha dúvidas sobre namorar ou não um homem casado. Entendeu que ela havia saído algumas vezes com o tal homem e isso despertava uma enorme curiosidade nele. Pode isso?

Ele não conseguiu ouvir muito naquele dia, mas o assunto o perseguiu.

- Mãe... posso perguntar uma coisa?
- Claro filho!

Foi a senha pro início de uma conversa franca. Ele queria saber se era normal que os homens casados saíssem com outras mulheres e mesmo se ele poderia sair com outras meninas mesmo tendo sua namorada.

A mãe, sábia, devolvia as perguntas com perguntas. Ele perguntava se podia sair com outra e ela perguntava se ele tinha vontade. Ele perguntava se as mulheres aceitavam isso e a mãe perguntava se era aceitável. Foi uma daquelas conversas que ajudaram o menino a formar seu caráter. Não ele não tinha vontade de sair com mais ninguém. Não ele não achava aceitável.

Alguns anos se passaram e ele conheceu uma menina, um pouco mais velha, na faculdade. Bonita e sensual, a moça logo lhe chamou a atenção e ele, sempre sedutor deu um jeito de emendar uma conversa em uma cerveja e uma cerveja em um beijo e um beijo em uma saída para um tal de “lugar mais reservado”.

Os carinhos cresceram, a vontade cresceu e logo eles se agarravam como amantes antigos. Um procurava no corpo do outro alguma parte que ainda não tivesse sido acarinhada ou beijada para que não ficasse nada de fora.

Ele experimentava beijos na nuca, pequenas mordidas na orelha enquanto passava sua mão grande no torso da mulher recém-conquistada que gemia e se entregava. Acabaram na casa dele e aquela fome quase selvagem virou um sexo delicioso, cheio de descobertas, sensualidade, erotismo, palavras limpas e sujas se misturando sem pudor.

O macho dentro daquele menino enchia seu peito de prazer. A conquista tinha se realizado. Ele estava dentro da sua presa e ela gozava alto, gemia alto, enlouquecia alto e tudo isso lhe dava o prazer de quem conquista uma montanha que nunca foi escalada.

Na hora do cigarro de depois, ela corta o clima e avisa: - Preciso ir embora, meu marido já deve estar em casa.

O mundo dele cai por terra. Marido? Como assim? Você falou marido???

Depois eu te explico, foi tudo o que ele ouviu. Ela foi embora e ele seguiu pensando noite adentro. Seu tesão e sua vontade viraram repúdio imediato. Ele se prometeu não sair mais com aquela mulher. Mas os pensamentos não paravam e as questões surgiam, uma depois da outra... foi difícil dormir naquele dia.

Dois dias depois ele reencontrou a mulher casada. Mesmo lugar, mesmo cenário, mesmo roteiro e pior: mesma vontade.

Ela já chegou beijando ele que rendeu-se fácil ao afago. Seu cheiro mexia com ele. Sua pela mexia com ele. Ela mexia com ele. Quando se deu conta já estavam de novo na casa dele seguindo os instintos mais primitivos negando as verdades mais básicas. Foi bom novamente. Mas não foi tão bom.

Acendeu o mesmo cigarro e antes dela sair correndo pra sua casa ele disparou. Eu não vou mais ver você. Andei pensando e acho que se você tem um marido e um amante é porque você não gosta de você mesma. E se você não gosta de você, não sou eu quem vai gostar.

As palavras doeram nela. Houve choro. Houve explicações. Houve lamento. O menino conversou, ouviu, falou. Ela também. Ao final, ele disse que o que acontecia é que ele não conseguia mais acreditar em uma relação possível. Seus sonhos e fantasias tinham evaporado. Ela dizia que o que eles tinham era só deles. Ele ouvia dizia que não tinham nada, só o sexo pelo sexo. O que para ele era muito pouco.

A honestidade da conversa fez bem aos dois. Viraram amigos. Ganharam o respeito um do outro. Nunca mais saíram juntos, mas ele estava lá para secar as lágrimas dela quando ela se separou do marido. E estava lá, como padrinho do segundo casamento dela.


E foram felizes para sempre.

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