Existia em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro, um jardim de infância
chamado Canarinhos. Era uma casinha de fachada estreita que seguia até o fundo
do quarteirão. O Menino e seu irmão foram estudar lá e foi lá que ele amou pela
primeira vez.
Antes da pré-escola ele havia conhecido meninas que frequentavam a
mesma praça no final do Leme. Nunca teve tempo de amar por lá, porque as
meninas nem sempre iam no mesmo horário e porque ele estava muito mais
preocupado em decorar a letra inteira de Ciranda-Cirandinha que era bem
difícil.
No Canarinhos era diferente. Na parte de trás havia um quintal de cimento que ele não gostava muito. Na parte da frente, uma grande caixa de
areia, havia um desses brinquedos que rodam em torno do próprio eixo com as
crianças sentadas numa espécie de banco de metal redondo. Foi nesse brinquedo que
ele notou a menina pela primeira vez. Um cabelo lindo quase loiro e escorrido,
uns olhos fortes e um sorriso largo. Seu coração disparava toda vez que via
aquela menina linda por ali e ele ficava por perto apenas para ver a menina
sorrir.
Um dia, houve um passeio ao Zoo. Iam todos de ônibus escolar conhecer os
animais que eles só haviam visto antes em livros e desenhos animados. Ele ficou
radiante, ia ter a companhia da menina por todo o dia. Pensou em oferecer um
sorvete. Imaginou poder andar de mãos dadas, carregar a mochila dela, qualquer
coisa. E ele foi feliz da vida com seu uniforme amarelo para o passeio.
O Zoo estava meio molhado por conta de uma chuva forte que havia caído
um dia antes. Algumas poças de lama estavam no caminho de todos, mas ele nem se
atentou a isso e seguiu com o grupo, sempre de olho na menina que fazia seu
coração disparar. O problema é que de tanto olhar para a menina ele não
percebeu uma tal de “pedra no meio do caminho” e tropeçou dando de cara com uma
das poças e se sujando por inteiro.
Todas as crianças do passeio caíram imediatamente em uma daquelas gargalhadas
maldosas que só as crianças podem dar. Ele pensou: - Tenho duas opções. Posso chorar
ou posso tentar levar isso para o lado engraçado. E decidiu rápido: - Vou
aproveitar!
Levantando do chão, o menino olhou para os amigos rindo e disse: - Quem
quer um abraço!?!? E saiu atrás da turma que entrou em algazarra. Ele tinha um
alvo certo e perseguiu a menina até conseguir chegar bem perto. E ela disse seu
nome e pediu para ele não fazer aquilo. Ela sabia seu nome. De repente isso era
mais do que o suficiente para que ele se sentisse limpo como um anjo, mais
feliz do que qualquer outra pessoa no mundo. Aquilo era o bastante e ele passou
o resto do dia sujo e feliz, como nunca antes.
Naquele dia ele aprendeu quer amar é estar feliz. E guardou isso para
sempre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário