segunda-feira, 24 de junho de 2013

O Primeiro Amor do Menino

Existia em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro, um jardim de infância chamado Canarinhos. Era uma casinha de fachada estreita que seguia até o fundo do quarteirão. O Menino e seu irmão foram estudar lá e foi lá que ele amou pela primeira vez.

Antes da pré-escola ele havia conhecido meninas que frequentavam a mesma praça no final do Leme. Nunca teve tempo de amar por lá, porque as meninas nem sempre iam no mesmo horário e porque ele estava muito mais preocupado em decorar a letra inteira de Ciranda-Cirandinha que era bem difícil.

No Canarinhos era diferente. Na parte de trás havia um quintal de cimento que ele não gostava muito. Na parte da frente, uma grande caixa de areia, havia um desses brinquedos que rodam em torno do próprio eixo com as crianças sentadas numa espécie de banco de metal redondo. Foi nesse brinquedo que ele notou a menina pela primeira vez. Um cabelo lindo quase loiro e escorrido, uns olhos fortes e um sorriso largo. Seu coração disparava toda vez que via aquela menina linda por ali e ele ficava por perto apenas para ver a menina sorrir.

Um dia, houve um passeio ao Zoo. Iam todos de ônibus escolar conhecer os animais que eles só haviam visto antes em livros e desenhos animados. Ele ficou radiante, ia ter a companhia da menina por todo o dia. Pensou em oferecer um sorvete. Imaginou poder andar de mãos dadas, carregar a mochila dela, qualquer coisa. E ele foi feliz da vida com seu uniforme amarelo para o passeio.

O Zoo estava meio molhado por conta de uma chuva forte que havia caído um dia antes. Algumas poças de lama estavam no caminho de todos, mas ele nem se atentou a isso e seguiu com o grupo, sempre de olho na menina que fazia seu coração disparar. O problema é que de tanto olhar para a menina ele não percebeu uma tal de “pedra no meio do caminho” e tropeçou dando de cara com uma das poças e se sujando por inteiro.

Todas as crianças do passeio caíram imediatamente em uma daquelas gargalhadas maldosas que só as crianças podem dar. Ele pensou: - Tenho duas opções. Posso chorar ou posso tentar levar isso para o lado engraçado. E decidiu rápido: - Vou aproveitar!

Levantando do chão, o menino olhou para os amigos rindo e disse: - Quem quer um abraço!?!? E saiu atrás da turma que entrou em algazarra. Ele tinha um alvo certo e perseguiu a menina até conseguir chegar bem perto. E ela disse seu nome e pediu para ele não fazer aquilo. Ela sabia seu nome. De repente isso era mais do que o suficiente para que ele se sentisse limpo como um anjo, mais feliz do que qualquer outra pessoa no mundo. Aquilo era o bastante e ele passou o resto do dia sujo e feliz, como nunca antes.


Naquele dia ele aprendeu quer amar é estar feliz. E guardou isso para sempre.

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