Até onde consegui entender, o afeto pode e deve ser parte do amor, mas
sozinho ele não é amor. Afeto é a vontade de ver o outro feliz, bem, sorridente
e satisfeito com o momento e com a própria vida. Afeto é querer bem, muito bem!
Afeto tem a ver com o prazer que sentimos pelo outro, em nome do outro. São
aqueles momentos em que você vê uma pessoa dançando, pulando ou mergulhando de
roupa na piscina e pensa: nossa, como é bom estar aqui para ver isso, como é
bom curtir esse momento.
Sinto afeto por pessoas especiais. Sinto afeto por pessoas que passaram
pela minha vida e que, mesmo que tenham seguido outros caminhos ficaram. Sinto
afeto por gente que vejo encontrar momentos de felicidade. Meu afeto está nos
outros e não em mim. Meu afeto não existe sozinho, a menos que viva na memória
e nas lembranças de momentos felizes.
Ouvi que o amor não existe se não estiver em duas pessoas ao mesmo
tempo. Ouvi que não é possível amar sozinho. Isso me obrigou a parar e pensar e
pensar e pensar. Sempre acreditei que o amor era meu e era eu que decidia amar
ou não. Mas faz sentido duvidar do amor que não está em duas pessoas ao mesmo
tempo. Amor não é um sentimento que possa ser frustrado. Quem pode e é muitas
vezes frustrada é a expectativa, que não tem muito a ver com o amor.
Amor é plural em todos os sentidos. Até Cristo disse: “amai-vos uns aos
outros”, vai ver ele já sabia e tentava explicar que amar sozinho não é amar.
Sim, eu sei que ele também disse: “como Eu vos amei”, mas aí é Jesus falando
com quem já o amava e gente que o ama até hoje, como eu.
Talvez o único amor que exista na solidão é o amor próprio. Esse
precisa existir, não tem conversa. Eu, por exemplo, me amo pra caramba! O amor
da gente por nós mesmos ensina a amar. É para isso que ele serve, não tenho a
menor dúvida. Quando aprendemos a amar nossas qualidades, respeitar nossos
defeitos e superar nossas dificuldades, aprendemos também como é que se faz
para amar os outros. O problema é que tem um monte de gente que se apaixona por
si mesmo de uma forma tão intensa que não sobra nem espaço para amar os outros
e passam a vida esperando por alguém que os ame tanto quanto eles mesmos se
amam. São vidas desperdiçadas, mas estão por toda parte.
Então: como é que se faz para saber quando é amor ou quando é afeto?
Pergunta difícil. Acho que o melhor caminho é verificar a troca. Tem troca? Se
tiver, há grandes chances de ser amor. Se não, se ficam faltando peças no
quebra-cabeça da relação, pode ser só afeto. A entrega não pode ser de um lado
só. O equilíbrio não pode ser difícil. Se for, vira gangorra e isso não é bom.
Pensando assim, dá pra acreditar que quando uma relação acaba e você
constata que havia muito afeto, você ainda pode mantê-lo, sem precisar matar o
outro para seguir em frente.
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