sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Afeto e Amor


Até onde consegui entender, o afeto pode e deve ser parte do amor, mas sozinho ele não é amor. Afeto é a vontade de ver o outro feliz, bem, sorridente e satisfeito com o momento e com a própria vida. Afeto é querer bem, muito bem! Afeto tem a ver com o prazer que sentimos pelo outro, em nome do outro. São aqueles momentos em que você vê uma pessoa dançando, pulando ou mergulhando de roupa na piscina e pensa: nossa, como é bom estar aqui para ver isso, como é bom curtir esse momento.

Sinto afeto por pessoas especiais. Sinto afeto por pessoas que passaram pela minha vida e que, mesmo que tenham seguido outros caminhos ficaram. Sinto afeto por gente que vejo encontrar momentos de felicidade. Meu afeto está nos outros e não em mim. Meu afeto não existe sozinho, a menos que viva na memória e nas lembranças de momentos felizes.

Ouvi que o amor não existe se não estiver em duas pessoas ao mesmo tempo. Ouvi que não é possível amar sozinho. Isso me obrigou a parar e pensar e pensar e pensar. Sempre acreditei que o amor era meu e era eu que decidia amar ou não. Mas faz sentido duvidar do amor que não está em duas pessoas ao mesmo tempo. Amor não é um sentimento que possa ser frustrado. Quem pode e é muitas vezes frustrada é a expectativa, que não tem muito a ver com o amor.

Amor é plural em todos os sentidos. Até Cristo disse: “amai-vos uns aos outros”, vai ver ele já sabia e tentava explicar que amar sozinho não é amar. Sim, eu sei que ele também disse: “como Eu vos amei”, mas aí é Jesus falando com quem já o amava e gente que o ama até hoje, como eu.

Talvez o único amor que exista na solidão é o amor próprio. Esse precisa existir, não tem conversa. Eu, por exemplo, me amo pra caramba! O amor da gente por nós mesmos ensina a amar. É para isso que ele serve, não tenho a menor dúvida. Quando aprendemos a amar nossas qualidades, respeitar nossos defeitos e superar nossas dificuldades, aprendemos também como é que se faz para amar os outros. O problema é que tem um monte de gente que se apaixona por si mesmo de uma forma tão intensa que não sobra nem espaço para amar os outros e passam a vida esperando por alguém que os ame tanto quanto eles mesmos se amam. São vidas desperdiçadas, mas estão por toda parte.

Então: como é que se faz para saber quando é amor ou quando é afeto? Pergunta difícil. Acho que o melhor caminho é verificar a troca. Tem troca? Se tiver, há grandes chances de ser amor. Se não, se ficam faltando peças no quebra-cabeça da relação, pode ser só afeto. A entrega não pode ser de um lado só. O equilíbrio não pode ser difícil. Se for, vira gangorra e isso não é bom.

Pensando assim, dá pra acreditar que quando uma relação acaba e você constata que havia muito afeto, você ainda pode mantê-lo, sem precisar matar o outro para seguir em frente.



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