segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Menino, Coração de Leão.


Nasceu sob o signo de leão. Vai ver que é por isso que o menino sempre se encantou com as histórias de Ricardo, Coração de Leão. As lutas, a honra, os valores e tudo mais que circulam as lendas contadas até hoje em cada livro, cada filme, cada documentário, sempre o fascinaram. O menino queria ter nascido com o mesmo tipo de coração de leão de Ricardo. Mas isso não aconteceu. Nasceu mesmo foi com um coração de menino e teve que dar duro pra trabalhar nele, pra virar gente grande.

O primeiro trabalho era entender como fazer de seu coração um lugar mais bacana. Definir que valores ele deveria ter como meta para poder alcançar sua referência. Isso passava por amigos, família e amores. Em tudo ele precisaria ser nobre, honrado e comprometido para poder ter certeza de que estava no caminho certo. Foi testado diversas vezes. As pessoas não entendiam muito bem o que ele estava fazendo ou mesmo porque fazia de um jeito diferente de todos os outros. Mas ele permaneceu fiel ao que sentia e ao que queria sentir.

Teve grandes amigos por quem jurou amizade eterna. Foi traído e perdoou alguns. Mas, de nada se esqueceu. Com o tempo, percebia que as melhores amizades eram as despretensiosas, que nada cobravam, que não faziam drama, que estavam sempre dispostas. Quis ser assim para seus amigos. Quis não cobrar. Quis ser simples e nada esperar. Quis não fazer drama e começou a se doar para as pessoas da maneira que acreditava ser a melhor. Perdeu algumas vezes mais. Seguiu acreditando e, com um pouco mais de tempo, percebeu que tinha uma linda quantidade de amigos do jeito que ele sempre sonhara.

Acreditou que em família fosse diferente. A herança de genes e de valores os ligaria, por certo, para todo o sempre. Sua avó lhe disse diversas vezes: com família sempre podemos contar, é seu porto seguro. Mas não foi sempre assim. Decepcionou-se algumas vezes, perdeu contato com tantas pessoas que lhe eram tão caras que chegou a duvidar pertencer àquela família. O tempo, sempre ele, mostrou que as coisas não são como nos contos de fada. Que dentro da família havia sim, gente que lhe oferecia segurança, carinho, cumplicidade. Mostrou que nem todos são como esperamos que sejam, mas família também é escolha. E assim ele cuidou dos que lhe cuidavam e construiu sua própria família. E seguiu certo de que sua avó tinha razão.

Mas o seu desafio maior sempre foi o amor. Seu coração de menino leão o fazia crer no amor maior que qualquer amor. Amor único. Amor cúmplice. Amor cego, surdo e mudo. Amor maior que a própria existência, daqueles que ficam nas histórias contadas e passadas como ideal de geração em geração. Ele acreditava ser esta a única razão de sua existência: amar.

Descobriu no título de um livro que amar se aprende amando. Escolheu então buscar seu amor maior nas curvas das estradas da sua vida. Amou desde cedo e sempre com toda a intensidade do mundo. Amou com entrega e com o compromisso de quem acredita sempre que o melhor está por vir. Amou certo de que seria aquele o maior amor da sua vida. E chorou a cada despedida, a cada descoberta de que aquela não era a pessoa definitiva. E, por isso, precisou dos amigos, da família, de alguns copos, de muitas ressacas e de muitos poemas escritos com lágrimas molhando o papel e as letras.

O fim de cada amor lhe trouxe uma tristeza incomensurável. Voltavam nele todas as dúvidas de criança: seria ele capaz de possuir o tal coração de leão em que sempre acreditou? Seria ele o homem que sempre quis ser? Ainda haveria tempo para isso? E nada importava. Passados os momentos tristes de luto pela morte do sonho do amor eterno depositado naquela pessoa, ele seguia em frente, peito aberto, escudo baixo, fantasias na cabeça e todo amor que houver nessa vida para ser vivido.

...

E o homem, por trás do menino, a tudo olhava com o carinho das lembranças da infância. Tudo isso lhe explica, lhe perdoa, lhe ajuda  ser mais homem, mais feliz, mais menino.



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