Nasceu sob o signo de leão. Vai ver que é por isso que o menino sempre
se encantou com as histórias de Ricardo, Coração de Leão. As lutas, a honra, os
valores e tudo mais que circulam as lendas contadas até hoje em cada livro,
cada filme, cada documentário, sempre o fascinaram. O menino queria ter nascido
com o mesmo tipo de coração de leão de Ricardo. Mas isso não aconteceu. Nasceu mesmo
foi com um coração de menino e teve que dar duro pra trabalhar nele, pra virar
gente grande.
O primeiro trabalho era entender como fazer de seu coração um lugar
mais bacana. Definir que valores ele deveria ter como meta para poder alcançar
sua referência. Isso passava por amigos, família e amores. Em tudo ele
precisaria ser nobre, honrado e comprometido para poder ter certeza de que
estava no caminho certo. Foi testado diversas vezes. As pessoas não entendiam
muito bem o que ele estava fazendo ou mesmo porque fazia de um jeito diferente
de todos os outros. Mas ele permaneceu fiel ao que sentia e ao que queria
sentir.
Teve grandes amigos por quem jurou amizade eterna. Foi traído e perdoou
alguns. Mas, de nada se esqueceu. Com o tempo, percebia que as melhores
amizades eram as despretensiosas, que nada cobravam, que não faziam drama, que
estavam sempre dispostas. Quis ser assim para seus amigos. Quis não cobrar.
Quis ser simples e nada esperar. Quis não fazer drama e começou a se doar para
as pessoas da maneira que acreditava ser a melhor. Perdeu algumas vezes mais. Seguiu
acreditando e, com um pouco mais de tempo, percebeu que tinha uma linda
quantidade de amigos do jeito que ele sempre sonhara.
Acreditou que em família fosse diferente. A herança de genes e de
valores os ligaria, por certo, para todo o sempre. Sua avó lhe disse diversas
vezes: com família sempre podemos contar, é seu porto seguro. Mas não foi
sempre assim. Decepcionou-se algumas vezes, perdeu contato com tantas pessoas
que lhe eram tão caras que chegou a duvidar pertencer àquela família. O tempo,
sempre ele, mostrou que as coisas não são como nos contos de fada. Que dentro
da família havia sim, gente que lhe oferecia segurança, carinho, cumplicidade. Mostrou
que nem todos são como esperamos que sejam, mas família também é escolha. E assim
ele cuidou dos que lhe cuidavam e construiu sua própria família. E seguiu certo
de que sua avó tinha razão.
Mas o seu desafio maior sempre foi o amor. Seu coração de menino leão o
fazia crer no amor maior que qualquer amor. Amor único. Amor cúmplice. Amor
cego, surdo e mudo. Amor maior que a própria existência, daqueles que ficam nas
histórias contadas e passadas como ideal de geração em geração. Ele acreditava
ser esta a única razão de sua existência: amar.
Descobriu no título de um livro que amar se aprende amando. Escolheu então
buscar seu amor maior nas curvas das estradas da sua vida. Amou desde cedo e
sempre com toda a intensidade do mundo. Amou com entrega e com o compromisso de
quem acredita sempre que o melhor está por vir. Amou certo de que seria aquele
o maior amor da sua vida. E chorou a cada despedida, a cada descoberta de que
aquela não era a pessoa definitiva. E, por isso, precisou dos amigos, da
família, de alguns copos, de muitas ressacas e de muitos poemas escritos com
lágrimas molhando o papel e as letras.
O fim de cada amor lhe trouxe uma tristeza incomensurável. Voltavam nele
todas as dúvidas de criança: seria ele capaz de possuir o tal coração de leão
em que sempre acreditou? Seria ele o homem que sempre quis ser? Ainda haveria
tempo para isso? E nada importava. Passados os momentos tristes de luto pela
morte do sonho do amor eterno depositado naquela pessoa, ele seguia em frente,
peito aberto, escudo baixo, fantasias na cabeça e todo amor que houver nessa
vida para ser vivido.
...
E o homem, por trás do menino, a tudo olhava com o carinho das
lembranças da infância. Tudo isso lhe explica, lhe perdoa, lhe ajuda ser mais homem, mais feliz, mais menino.
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