Mas afinal: o que é que as pessoas tanto procuram e que não acham nunca?
A pergunta vale um milhão de dólares. Ninguém tem resposta e, ao mesmo tempo:
todo mundo tem a sua própria resposta. A grande questão é: o que esperar de um
relacionamento? A grande resposta são as coisas inesperadas que os
relacionamentos trazem.
Difícil falar em nome dos outros. Por isso, acabo sempre falando da
minha vida, mesmo que fale mais do que deveria. A única coisa que eu sei
perfeitamente bem é que não tenho a menor ideia do que espero em um
relacionamento. Não consigo e não quero racionalizar sentimentos. Meu sentimento
sai de dentro do coração, não da cabeça. Eu sei, eu sei: já sou bem grandinho e
devia estar buscando um relacionamento cem por cento baseado nas
compatibilidades da vida.
Devia ter um check-list com coisas como. Alguém que goste de morar
perto do mato, só para ouvir os passarinhos cantando de manhã. Alguém que goste
de estradas e que esteja sempre disposta a entrar no carro e partir, sem rumo, atrás
de uma praia mais bonita, um pôr-do-sol que mereça aplausos ou pra um
restaurante diferente que o amigo do primo de uma amiga comentou. Alguém que
curta os amigos e as suas conversas de botequim. Alguém que goste de andar e
conversar enquanto anda. Alguém que solte a risada fácil nas piadas mais sem
graça. Alguém que cuide de mim, mesmo que eu esteja apenas fazendo drama,
quando me sentisse doente. Alguém que tenha valores sólidos de família e que
acredite no amor incondicional pelos seus. Alguém que reclame pouco e que elogie
muito. Alguém capaz de se emocionar com coisas simples. Alguém...
Mas a vida não é bem assim e isso acaba não sendo o bastante. Além de
tudo isso, tem as expectativas, os traumas, os momentos de vida e o equilíbrio
necessário. Ninguém é assim tão sob medida todos os dias. Tem dias mais
apertados e dias soltos demais.
As tais expectativas, por exemplo, são bilaterais e é mais fácil ganhar
na mega-sena da virada e sozinho todos os anos do que encontrar alguém que
espere exatamente o que você espera da vida. Então você aprende que tem que
ceder e que tem que perceber o tanto que a outra pessoa cede. Aí vêm os
traumas. Eles dizem para você que nada disso adianta nada, lembram que você já
tentou isso antes e se ferrou, sacodem com sentimentos ruins qualquer leve
tremor no relacionamento e revelam a insegurança inerente a todo mundo. Se você
conseguir passar por cima disso tudo, muito cuidado em perceber que o momento
de vida de um nunca é o momento de vida do outro. E, haja equilíbrio.
E segue assim a eterna busca pela pessoa ideal. Ou melhor, pela pessoa
idealizada. Seguimos diariamente acreditando em um milagre emocional. O de que
de repente, ao cruzar uma rua, vamos esbarrar com alguém que vai fazer o tempo
parar, dar início a um fundo musical romântico, trocar um olhar cheio do maior
carinho do mundo e pronto: você já pode morrer feliz.
É claro que isso não vai acontecer. É claro que sabemos disso. Mas quem
disse que ser claro é o bastante? O único jeito de encontrar uma agulha no
palheiro é com um imã, por isso o melhor a fazer é cuidar de si mesmo, quem
sabe assim você atrai a agulha que está procurando há tanto tempo.
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